terça-feira, 12 de setembro de 2023

Eliane Cantanhêde - O slogan de Mauro Cid já era

O Estado de S. Paulo

Bolsonaro destruiu a carreira e o nome de Mauro Cid; agora, está nas mãos dele

Como presidente, Jair Bolsonaro destruiu a carreira, o nome e a honra do tenente-coronel da ativa Mauro Cid. Como ex-presidente, está nas mãos dele. A cada dia aumenta o risco de trocar a glória de ter subido a rampa do Planalto pelo vexame de descer os degraus de uma prisão, não por um, mas por uma sucessão de crimes.

Cid não é santo, criança, ingênuo, nem freira no lugar errado. Fez o que fez em sã consciência, achando que o poder pode tudo, tirando casquinha e usando o slogan (com odor fascista) de Bolsonaro, “Brasil acima de tudo, Deus acima de todos”, como Bolsonaro acima de tudo e de todos, pior que o repulsivo “Um manda, outro obedece” do general, então na ativa, Eduardo Pazuello.

Parece evidente, porém, que Cid cumpria ordens do chefe e ninguém melhor e com mais conhecimento de causa e de fatos do que ele para fazer delação premiada e montar o mapa dos desvios e desmandos do governo do capitão reformado, onde as regiões são as várias frentes de investigação. Ele, Cid, desbravou todas elas em posição de executormor. E quem era o mandante?

Quatro meses preso por certificados falsos de vacina, Cid também é pivô nas investigações sobre colares, relógios e diamantes; venda e recompra de parte das joias no exterior; vazamento de inquérito sigiloso da PF para divulgar fake news contra as eleições; milhões de reais em contas e o dinheiro vivo que ia, por exemplo, para a então primeira-dama, Michelle.

Por fim – ao que se sabe até agora – Cid andava em péssimas companhias, falava e trocava mensagens por celular com um amigo militar de Bolsonaro expulso do Exército e até na antessala do gabinete presidencial. E guardava uma minuta de golpe à semelhança da encontrada pela PF na casa do ex-ministro da Justiça Anderson Torres – o outro homem-bomba de Bolsonaro.

Cid sabe de tudo, participou de tudo e percebeu que estava sendo jogado ao mar quando Bolsonaro declarou que “cada um segue a sua vida”. A gota d’água para a delação premiada foi a operação da PF contra seu próprio pai, general Mauro Lourena Cid, que integrou o Alto-Comando do Exército. Jogou a toalha: a verdade ou a mentira, ele (Bolsonaro) ou eu. Agora é saber também, por exemplo, como os “generais do Planalto” entram na história.

Além da disputa entre PGR e PF pelas delações, o que incomoda e pode embaçar a verdade é uma balança desequilibrada: enquanto aperta o torniquete contra Bolsonaro, o STF, inclusive monocraticamente, alivia contra todos os alvos da Lava Jato. Isso confunde a sociedade e atiça golpistas, que lutam para deslegitimar o que é legítimo e legal: a delação premiada de Cid.

 

Um comentário: