O Globo
O conflito no Oriente Médio acontece em um
momento em que a economia mundial dá sinais de incerteza
A explosão de violência no Oriente Médio
ocorre numa hora em que a economia do mundo coleciona pontos de incerteza. Os
juros estão altos, a inflação tem sido resistente, o petróleo subiu durante três
meses. Na semana passada, havia caído mas, ontem, diante do conflito no Oriente
Médio, voltou a subir. Os grandes fornecedores de petróleo são Arábia Saudita,
Rússia e Irã. Se o Irã sofrer aumento de sanções pelo apoio que dá ao Hamas, a
oferta do produto diminuirá.
A Rússia hoje depende do Irã para o fornecimento de drones usados na guerra contra a Ucrânia, portanto não terá motivo algum para recuar do corte na produção que adotou, após acordo com a Arábia Saudita. Se a violência da reação israelense for alta demais, a Arábia Saudita abandonará a negociação que a aproximava de Israel. Do ponto de vista político e econômico, o ataque do Hamas a Israel está mexendo muitas pedras no tabuleiro ao mesmo tempo.
— O problema do petróleo é quanto tempo essa
operação vai durar. Se durar muito tempo, haverá consequências. Se a resposta
de Israel for muito dura e longa, a perspectiva do petróleo ficará complicada —
avalia o ex-ministro da Fazenda e embaixador Rubens Ricupero.
Armínio Fraga, ex-presidente do Banco Central,
acha que a grande pergunta é se todo esse ruído pode afetar a trajetória de
juros determinada pelo Fed.
— O que eles decidem nos afetam. O Brasil
está entrando no momento dessa crise um pouco fragilizado. Os ajustes na área
fiscal estão difíceis, a agenda de desenvolvimento não está clara.
A aposta de Armínio alivia um pouco o
cenário. Ele não acredita em alta de juros americanos enquanto durar esse
momento de extrema incerteza.
— Normalmente nessas horas, os bancos
centrais não jogam gasolina no fogo. Então a minha expectativa é que eles vão
dar uma segurada —avalia.
Mas o conflito em si como entender? O
embaixador Marcos Azambuja descreve o que está acontecendo com imagens fortes.
— Estamos assistindo a uma revolução dentro
de um presídio. A explosão de violência em Gaza não é um ato politicamente
compreensível. O Hamas não tem condições de vitória. O que há é o desespero
levando à violência, sem nenhuma esperança de vitória. Gaza não vencerá. Mas,
por outro lado, Israel está vivendo o pior momento da sua história —afirma
Azambuja.
Ricupero teme outro resultado desse conflito:
a próxima reunião da COP, conferência de cúpula das Nações Unidas sobre o
clima.
— A próxima reunião da COP, neste fim de ano,
será naquela região, e tudo isso vai reduzir o nível de atenção no encontro. No
ano passado, a guerra da Ucrânia desviou atenção do problema climático e, além
disso, estimulou o uso de combustíveis fósseis.
Armínio contou que passou os últimos oito
meses integrando um grupo de estudiosos que assessorou o G20, a pedido da
Índia, e organizado pelo economista americano Larry Summers. Discutiram os
grandes problemas do mundo.
— Saí convencido de que o combate à mudança
climática não vai sair muito bem. A organização do planeta para lidar com essa
questão, esse imperativo, está devagar, os esforços estão modestos. E tudo está
pior do que se esperava como essa seca no Amazonas.
Questões graves vão sendo deixadas de lado e
o conflito que explodiu após o ataque terrorista do Hamas contra Israel vai
drenar as forças de muitos países. O número de vítimas diretas entre palestinos
e israelenses atinge patamares assustadores.
— O acordo que estava sendo costurado para
que a Arábia Saudita reconhecesse Israel, deixaria os palestinos à margem. O
Ocidente poderia ajudar a parte moderada dos palestinos e isolar o Hamas. O
grupo não tinha muito a perder, era saber se morreria agora ou depois. O
problema para Israel é que para fazer uma incursão por terra ele terá que
ocupar a Faixa de Gaza, como já ocupou no passado e, para isso, teria que matar
milhares de civis. Seria um banho de sangue — avalia o embaixador Ricupero.
Ricupero avalia que um dos vários erros de
Benjamin Netanyahu foi enfraquecer o próprio país com seu projeto
antidemocrático.
— Ele cindiu o país ao meio com sua proposta
de tirar poderes do Judiciário e, sem dúvida, esse enfraquecimento de Israel
foi um fator que pesou na decisão do Hamas de desfechar o ataque.
Um comentário:
Alá,Jeová,Maomé e Moisés,todos na causa!
Postar um comentário