O Globo
A ministra Nísia enfrenta crises e epidemia e preconceito contra a mulher, mas diz que o governo tem dado respostas e recupera a saúde
O Brasil comprou todo o estoque de vacina
da dengue de
laboratório japonês, que tem capacidade limitada de produção. No futuro, haverá
a vacina que está sendo desenvolvida pelo Butantã. E a Fiocruz poderá
vir a se associar para produzir a Qdenga no Brasil. Não é verdade que morreram
mais Yanomami no atual governo do que no anterior. Já está em curso o trabalho
de recuperação dos hospitais federais no Rio. São respostas da ministra da
Saúde, Nísia
Trindade, a algumas das várias perguntas que recaem sobre a sua
administração.
Em entrevista que me concedeu na GloboNews, a ministra explicou os problemas que tem enfrentado nas áreas da saúde e da política. O país vive uma epidemia de dengue com mais de dois milhões de casos, e muita subnotificação. O governo tem feito campanhas, mas a vacinação cobre apenas uma pequena faixa etária de 10 a 14 anos, que é o grupo mais vulnerável.
— A dengue já existia no passado, mas o
retorno nessa forma de epidemia é um fenômeno de 40 anos. O fato de termos
ultrapassado já o número de casos de todo o ano de 2023, e de ter começado na
região Centro-Oeste, Sudeste e Sul essa proliferação maior do Aedes Aegypti, em
parte, é resultado de fatores ambientais, a mudança climática, e o El Niño.
Hoje o mais eficiente ainda é a campanha contra os focos transmissores, mas
estamos fazendo um novo guia para orientar os procedimentos contra a dengue.
Temos uma linha também de tecnologias mais modernas de controle do mosquito,
como a bactéria Wolbachia, que foi usada em Niterói, com grande sucesso.
Sobre a morte dos ianomâmis, a ministra disse
que o assunto foi tratado na primeira reunião ministerial e naquela viagem com
20 dias de mandato, quando foi decretada “emergência sanitária nacional”.
—Não é verdade que morreram mais pessoas no
nosso governo. É importante esclarecer. Muitas vezes a certidão de nascimento e
óbito de pessoa do povo Yanomami é feita pelo profissional de saúde. Se não
está tendo essa assistência de forma adequada (como no governo passado) o
registro não é feito. Então não dá para comparar. É falso que morreram mais
indígenas. Levará tempo até termos a recuperação do modo de vida Yanomami, com
a descontaminação do mercúrio e a recuperação dos rios, das águas, da pequena agricultura.
O trabalho continua e agora de forma mais integrada na Casa de Governo
instalada em Roraima. No primeiro ano, conseguimos reabrir seis polos de saúde
indígena que estavam fechados.
Sobre os hospitais federais do Rio, a
ministra disse que já há ações de curto prazo para reduzir filas de cirurgia e
de procedimentos.
—O trabalho do grupo executivo terá
resultados em um mês, mas eu estimo que em quatro meses vários dos problemas
apontados sejam sanados. Fizemos ações no primeiro ano, mas a situação dos
hospitais federais era dramática. Na terça-feira, tive reunião com os
secretários de Saúde do Rio e do Estado do Rio, os ex-ministros Temporão (José
Gomes) e Arthur Chioro, especialistas em gestão hospitalar, a UFRJ, os
institutos nacionais da Fiocruz, todos querendo ajudar. São hospitais de antes
do SUS e a determinação do presidente Lula é para que eles voltem a ser centros
de excelência.
Quando perguntei sobre as crises e críticas
políticas, a ministra disse que terminou o ano passado com muitos elogios pela
recuperação de programas governamentais que haviam sido abandonados como o Mais
Médicos, Farmácia Popular, e Saúde da Família. Existem já 28 mil novos
profissionais no Mais Médicos, desses 25 mil já em atividade e três mil em
treinamento, o que ela diz que é um recorde.
—Chega esse ano e há várias críticas, como
você falou. Eu as enfrento fortalecendo o SUS e dialogando com todos os
setores.
Perguntei se parte das reclamações vinha do
fato de ela ser mulher, a primeira a assumir o Ministério da Saúde.
—Sem dúvida. Esse é um elemento muito
importante. Nós, mulheres, enfrentamos críticas ao nosso modo de ser, de fazer
gestão, de falar. Se um homem chora no espaço público é sensível. Se uma mulher
chora, ela é fraca. Se um homem bate na mesa é normal, é firme, exerce sua
autoridade. Se uma mulher faz a mesma coisa é uma descontrolada. O ambiente é
muito refratário a uma mulher num ministério tão importante. Mas eu sou pessoa
com trajetória na saúde pública, recebi uma missão, a exerço com determinação e
sabendo que represento uma visão de país. Por isso, me sinto firme.
Um comentário:
Força na peruca,estamos contigo.
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