Folha de s. Paulo
Muitas falhas contribuíram para o desastre no
RS, mas nas batalhas simbólicas Brasil não se sai tão mal
A situação no
Rio Grande do Sul é de guerra, e guerras são vencidas ou
perdidas também no plano simbólico. Isso gera alguns paradoxos.
No reino do estritamente objetivo, não faria sentido mobilizar recursos para salvar o cavalo Caramelo, em Canoas, quando ainda há muitos seres humanos que precisam de socorro. Mas o resgate do equino, que comoveu o país, cumpre a função de unir a população para enfrentar a tragédia. O sinal que a operação transmitiu foi o de que não somos indiferentes à dor de ninguém —nem mesmo da de outras espécies— e saberemos superar os desafios que nos são impostos. Caramelo é o Rio Grande.
De modo análogo, o deslocamento de um
presidente, com seu séquito de auxiliares e esquemas especiais de segurança,
para uma área de catástrofe objetivamente atrapalha o trabalho das equipes de
resgate.
Mas é obrigação do dirigente fazer-se
presente nessas horas. Embora as constituições não o explicitem, uma das
funções da Presidência é oferecer clareza moral, confiança e esperança à
população. Ausentar-se num momento destes equivale a dizer "não estou nem
aí, virem-se".
Foi isso, aliás, o que Jair
Bolsonaro fez quando das enchentes de 2021 na Bahia e, em maior
escala, ao longo da pandemia. A falta de solidariedade do ex-presidente foi
crucial para que ele não fosse reeleito, pelo que deveríamos estar todos
agradecidos.
Como as águas ainda não baixaram, é cedo para
uma avaliação completa da situação em campo. Mas, no plano simbólico, não
estamos nos saindo mal. Lula, Eduardo Leite e
demais autoridades não estão fugindo a seus papéis. Os brasileiros mostram-se
solidários e se mobilizam para ajudar. Há, por certo, ruídos, em especial nas
redes sociais, mas eles não parecem comprometer os esforços.
É claro que não podemos nos contentar com
isso. Falhas, notadamente as de prevenção, foram muitas e, pelos modelos
climáticos, desastres ambientais se tornarão o novo normal.
Um comentário:
O correto é pensar no resgate de todas espécies.
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