O Globo
Ministros ganham do chefe a garantia de que,
por mais medíocres e até enrolados em investigações que estejam, não serão
trocados
Ao término de sete horas em que o presidente
da República e o primeiro escalão ficaram trancados numa sala, o resumo que
chegou à imprensa foi: nada de ideia nova. Eis uma síntese do momento atual do
governo Lula 3, em que soluções inovadoras para problemas cada vez mais
complexos nem entram na pauta. Assim, ideia nova vira sinônimo de invencionice
histriônica, do tipo que alguns ministros propõem para mostrar serviço ao
chefe.
Lula acha que está na hora da colheita dos projetos já anunciados ou postos em prática, em vez de lançar novos. Até aí tudo bem, mesmo porque a realidade é que o Orçamento está estourado, o congelamento de R$ 15 bilhões atingiu até programas recém-lançados, como o festejado Pé-de-Meia, e não há dinheiro para muito além do que já está em curso.
Mas o que chama a atenção na dinâmica do
governo é a falta de perspectivas novas, algo que seria, sim, muito bem-vindo,
não custaria nada e ajudaria a organizar um time para lá de irregular que, a
despeito das evidentes deficiências, Lula tratou de afagar de forma
paternalista.
Um governo eficiente não precisa que o
presidente se sente à cabeceira por sete horas para ouvir balanços muitas vezes
irreais apresentados por ministros duas vezes por ano. Isso é pura perda de
energia.
Tais informações precisariam ser atualizadas
em tempo real, circular por todos e gerar cobranças por metas periodicamente —
e de forma mais realista que o elogio feito pelo petista a áreas que claramente
estão deixando a desejar.
Da mesma forma, cheira a naftalina oitentista
a cobrança de Lula para que os ministros, quando estiverem nos seus Estados,
digam que a obra “x” é do governo federal. Na era da comunicação instantânea
pelas redes sociais, que gera impactos tão concretos quanto o governo correr
para editar uma Medida Provisória para isentar medalhistas olímpicos de Imposto
de Renda cobrado há mais de 50 anos, a orientação se mostra ainda mais
deslocada.
Se o governo não consegue, com todas as
ferramentas do século XXI, desembolsando milhões em obras diretamente ou por
meio de pagamento de emendas parlamentares, comunicar que aquela obra é
federal, o problema de comunicação é grave, e não há o que o ministro “da
terra” possa fazer.
O importante para Lula no início de um
semestre em que está com a popularidade equivalente à de Jair Bolsonaro na
mesma fase do governo — ou seja, em agosto de 2020, auge de sua condução
alucinada da pandemia — seria cobrar seriamente os ministros das áreas-chave
para resolver problemas graves.
De que maneira o Planalto está se preparando
para enfrentar a batalha pela presidência da Câmara e do Senado, que ganhou
novos contornos de sublevação depois do freio às emendas imposto pelo ministro
Flávio Dino, do STF — e no qual os parlamentares veem a mão do próprio Lula?
Quais serão o timing da escolha do sucessor
de Roberto Campos Neto e o perfil do escolhido? O presidente deixará correr
solta a fritura de Fernando Haddad que continua sendo feita abertamente pelo PT
e, na surdina, por colegas de ministério, a ponto de o ministro até abreviar as
férias para não deixar de estar presente na reunião, dada a necessidade de
defender suas medidas?
Qual será o caminho para a série de minas
terrestres em matéria de diplomacia internacional que Lula vai colecionando
neste terceiro mandato e que o afastam da imagem de grande estadista preocupado
com a economia verde e a democracia que ele pretendia traçar para si?
Nada disso é possível de encaminhar numa reunião em que ministros ganham do chefe a garantia de que, por mais medíocres e até enrolados em investigações que estejam, não serão trocados e não precisam nem se preocupar em ter ideias novas, só em tocar a bola de lado, mesmo.
2 comentários:
Tá surpresa Vera?!?
Pois é,governo perfeito não existe.
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