terça-feira, 10 de julho de 2012

Aécio desafia Dilma e nacionaliza eleição :: Raymundo Costa

Foi o senador Aécio Neves quem transformou a eleição de Belo Horizonte numa questão nacional. Recém-criado, o PSD ainda não tem músculos para fazer uma opção, agora, entre o tucano e a presidente Dilma Rousseff. O PSB do governador de Pernambuco, Eduardo Campos, tratou de limitar as divergências com o PT na seção "assuntos paroquiais". E o PT, de fato, ficou sem alternativa, a não ser lançar candidato próprio, depois que o PSB local, satélite de Aécio, rompeu o acordo que unia as duas siglas no mesmo palanque eleitoral.

É possível que Aécio tenha cometido um ou mais erros de cálculo, ao decidir demarcar território na eleição de BH.

O tucano talvez não contasse que os PTs do ministro Fernando Pimentel (Desenvolvimento, Indústria e Comércio) e do ex-ministro Patrus Ananias (Desenvolvimento Social), fizessem uma trégua, depois da disputa encarniçada em que os dois se envolveram nas eleições de 2010. Patrus, prefeito de Belo Horizonte de janeiro de 1993 a janeiro de 1997, é um candidato competitivo. Márcio Lacerda ainda é o favorito à reeleição, mas o petista sem dúvida será um osso mais duro de roer do que o vice-prefeito Roberto Carvalho (PT).

Kassab quer PSD sem compromisso com Dilma ou Aécio

Ao movimentar as peças no tabuleiro, também jogou o PMDB nos braços de Dilma, ficou numa situação difícil com Eduardo Campos e estressou o PSD. O vice-presidente e presidente do PMDB, Michel Temer, em pouco mais de 24 horas retirou da disputa o candidato do partido, Leonardo Quintão, e passou a apoiar Patrus. Ganhou créditos com Dilma e o PT. À exceção do PMDB, os outros dois partidos (PT e PSD) integravam a aliança do prefeito.

No limite, Aécio talvez tenha assumido um risco desnecessário: mesmo se fosse, como esperado, reeleito agora com o apoio de PT, PSDB e PSD, em 2014 o prefeito Márcio Lacerda não teria como se opor à candidatura do tucano, em nome de uma entidade cultuada na política estadual, a chamada "união mineira".

Ágil como o PMDB, no desembarque da candidatura de Lacerda e no embarque na candidatura do PT foi o PSD. Na perspectiva de Gilberto Kassab, presidente nacional do PSD, Aécio poderia manter o apoio dos pessedistas, mas o senador mineiro nem sequer telefonou para avisar que seu pupilo Lacerda estava rompendo o acordo escrito que tinha com o PT para as eleições. Um bom pretexto para Kassab intervir na seção local do PSD.

O apoio do PSD a Patrus pode ser considerado sub judice, pois os pessedistas já registraram sua ata de convenção. A intervenção não foi uma decisão isolada de Kassab. O prefeito de São Paulo teve o aval do presidente do diretório regional, deputado Paulo Simão, e o apoio de quatro dos seis deputados federais do partido. " A intervenção foi uma medida de força, mas necessária", disse Kassab a interlocutores. "O Aécio fez um movimento muito grande, onde o grande perdedor talvez seja ele mesmo".

Entende o prefeito de São Paulo que ainda "não está na hora de o PSD fazer essa opção", entre Dilma e Aécio. "Não temos compromisso com a reeleição da presidente, mas também não temos com o Aécio", argumenta o prefeito, nas conversas com os correligionários. O PSD é um partido de deputados federais, Kassab conversou com quase 100 deles, nas tratativas para a criação do PSD, e sempre fez questão de deixar claro que essa era uma definição a ser tomada depois das eleições municipais.

"Não há decisão difícil com unanimidade", dizia ontem o prefeito em uma das diversas conversas que teve sobre a intervenção em Minas Gerais e o apoio do PSD ao PT. "É o ônus de quem comanda um partido. O tempo vai dizer se foi uma decisão acertada ou errada". Até agora, Kassab tem crédito de sobra: todas as suas apostas na criação do PSD foram vitoriosas, apesar do ceticismo inicial sobre a empreitada, quando ele abriu dissidência no Democratas (DEM).

Kassab telefonou para Aécio e para o governador Antônio Anastasia. Reclamou que a decisão dos mineiros parece ter sido tomada num impulso, sem nenhuma consulta prévia, o que deixou o PSD na parede. Ouviu de volta que se tratava de uma questão local. "Não é local. Ele já se colocou como candidato a presidente", acredita Kassab. O prefeito acha que não tinha como ficar contra a presidente, com quem construiu uma relação que classifica de "excelente".

"Ainda não está na hora (discutir o apoio do PSD na eleição presidencial)", costuma dizer Kassab.

Kassab tem mais queixas do PSDB. Os tucanos estiveram na linha de frente da ação movida no Judiciário para impedir o acesso do PSD a tempo de rádio e televisão no horário eleitoral gratuito. PT, PSB e PCdoB ficaram de fora. "Nada disso diminui o respeito que eu tenho pelo Márcio (Lacerda) e pelo Aécio (Neves)".

O prefeito de São Paulo tem razão quando afirma que o foco da questão mineira não deve ser o PSD. É a sucessão presidencial de 2014. Lacerda tensiona a relação com os aliados petistas desde o ano passado. A aliança PT-PSDB já foi um dia vista por tucanos e petistas mineiros como o embrião do que deveria ser o "pós Lula".

O presidente do PSB, Eduardo Campos, também se sentiu na obrigação de vir a público e reiterar que seu partido já decidiu apoiar a reeleição de Dilma Rousseff, mesmo sem deixar de mencionar que o PT muitas vezes cria mais problemas para a presidente do que o aliado PSB. Outro efeito colateral provavelmente não calculado por Aécio.

Kassab, que em São Paulo apoia a candidatura de José Serra, rival de Aécio Neves, no PSDB, em Minas deu uma demonstração prática que o PSD não é um partido, de centro e nem de direita. Como ele mesmo diz, só o tempo dirá se tomou a decisão acertada.

É cada vez maior o espaço concedido na agenda oficiosa de Dilma Rousseff ao ministro da Defesa, Celso Amorim. Para quem pensou que poderia derrubar o ministro Guido Mantega, uma informação: ele - e Alexandre Tombini, do Banco Central - são interlocutores diários da presidente, que não perde de vista a crise econômica mundial.

FONTE: VALOR ECONÔMICO

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