A produção de veículos cairá este ano pela primeira vez desde 2002. Mesmo com o IPI reduzido, a desvalorização do real, a restrição à importação de carros, haverá queda. O aumento da inadimplência pesou, o crédito se contraiu, as exportações caíram muito, em especial para a Argentina. Os carros usados também ganharam espaço no mercado.
O mês de maio é chave para se entender os estímulos ao setor automotivo. Numa mesma leva de medidas, houve restrição à compra de veículos importados, a liberação, por parte do Banco Central, de R$ 18 bilhões em compulsório para financiamento à compra de carros, e o dólar rompeu a barreira de R$ 2 para não voltar.
Não fosse o tratamento especial dado pelo governo ao setor, estes números chamariam menos atenção. Segundo a Fenabrave, a produção de veículos cairá 1,5% este ano, contando veículos comerciais leves, automóveis, ônibus e caminhões. As vendas internas devem crescer 4%, mas as exportações podem fechar com queda de 21%.
Avaliando apenas os veículos leves, o especialista na área automotiva Stephan Keese, da consultoria Roland Berger, estima que o crescimento das vendas seria de 2%, caso o IPI não tivesse sido reduzido. Com o estímulo, o crescimento deve ir a 8,7%. O problema é que isso é antecipação de consumo.
- A demanda para 2013 será menor. Quem queria comprar carro já comprou - afirma.
Keese avalia que a desaceleração da economia afetou o setor. As margens ficaram mais apertadas e o real mais fraco tornou mais cara a importação de insumos. Acha que houve aumento do protecionismo em 2012 e que há poucas saídas para o produto nacional:
- O carro brasileiro não tem capacidade de concorrer fora do Mercosul.
As exportações para a Argentina despencaram, não só de veículos, mas de peças e componentes. Estes são os números, entre janeiro a outubro: automóveis, -8%; tratores, -13%, motores, -38%; veículos de carga, -19%; partes e peças para veículos, -11%. São perdas bilionárias, em dólares.
O coordenador do Centro de Estudos Automotivos, Luiz Mello, avalia que o maior erro do governo foi estrangular a indústria do álcool, via preço congelado da gasolina.
- A única inovação que a indústria automotiva brasileira tem para oferecer ao mundo é o álcool. Esse era o caminho para aumentar exportações, tanto de combustível quanto de veículos - disse.
O mercado de carros usados cresceu 25% de 2009 a 2011, saindo de 9,3 milhões de unidades para 11,7 milhões. Depois de três anos de estímulos à venda de veículos, os usados estão mais competitivos, pois são seminovos. Mais um entrave à produção.
Fonte: O Globo
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