Interpreta acertadamente quem acha que a última reunião do Diretório Nacional do PT representa uma virada de página. A página do mensalão e de seu julgamento no Supremo Tribunal Federal (STF). Eventuais manifestações contrárias às condenações podem ocorrer aqui ou ali. A Constituição assegura a liberdade de expressão. Mas não terá formalmente o aval do PT que, virada a página, já dispõe de uma agenda pronta para 2013, quando o partido completa 33 anos de idade, dez dos quais no exercício da Presidência.
As datas serão festejadas pelo PT e o Instituto Lula. Haverá uma exposição de fotos, provavelmente no corredor da Câmara destinado a esse tipo eventos. A agenda política prevê o estreitamento do apoio ao governo, a preparação para a reeleição de Dilma Rousseff em 2014 e a organização do congresso de novembro, que deve reeleger seu atual presidente, Rui Falcão.
Presidente acidental, pode-se dizer que Rui foi a cara do PT, em 2012. Expondo-se nos momentos mais críticos, como a defesa dos acusados de integrar o esquema do mensalão, Rui consolidou-se internamente. É favorito em novembro.
Partido muda de pauta e prepara a reeleição de Dilma
"Se houve compra de votos, por que o procurador-geral da República não procurou investigar a evolução patrimonial do pessoal que teria sido aliciado?", é um enunciado típico da lavra de Falcão, sempre provocativo. Mesmo agora depois que o STF condenou boa parte da antiga elite dirigente, Falcão mantém a opinião segundo a qual não houve "compra de votos, desvio de dinheiro público e nenhum companheiro foi beneficiado pessoalmente".
Mas não deixou de ficar satisfeito com as articulações que levaram à retirada da moção para o PT não reconhecer o julgamento. Feita por um representante de Santa Catarina, a proposta nem chegou a ser votada na reunião do DN, no último fim de semana.
Após as eleições, Falcão esteve com o governador de Pernambuco e presidente do PSB, Eduardo Campos. Ele reconhece que a disputa eleitoral de fato provocou tensão na relação entre os dois partidos. Mas não deixou sequela, assegura, à medida que Campos e o PSB mantiveram publicamente o apoio ao governo e à reeleição.
O governo, de acordo com Falcão, tem o efetivo apoio do PT. É um governo de alianças, mas "tem a matriz do PT". As iniciativas do atual governo - argumenta -são constituídas de "medidas que estão no nosso ideário: comissão da verdade, redução da taxa de juros, combate à pobreza". Síntese dessa política seria a MP que prevê a redução da tarifa de energia elétrica, "que estimula a competitividade da indústria e beneficia o orçamento da população mais pobre".
Dilma também exercita a política geral do PT no plano externo de defesa negociada dos conflitos, não intervenção em assuntos externos de outros países, defesa da paz mundial, defesa do desenvolvimento sustentável, "agora inclusive com uma visão diferente do combate à crise, confirmando que não é com mais austeridade e revogação de direitos que você vai resolver". Falcão é um entusiasta da fórmula.
Na conjuntura vista pela ótica de Falcão "está cada dia mais claro para a oposição parlamentar que o sucesso de nossos governos tem deixado pouca margem para que eles possam pensar em vitória eleitoral no próximo período". Como as vias para o Palácio do Planalto estão bloqueadas pelo "processo eleitoral normal, como a apresentação e o debate de programas", os oposicionistas "se valem de outras ações" que estariam na origem da atual agitação na política e na economia (exemplo: o debate sobre a saída do ministro da Fazenda, Guido Mantega).
"Não é que eles (da oposição) queiram dar um golpe, não se trata disso", explica Falcão. "Não há condições no Brasil de hoje para isso". O que a oposição tenta é "se valer de instrumentos como o processo de denúncia permanente, a desqualificação de nossas lideranças e da tentativa de criminalizar o PT como partido político". Quando fala da desqualificação de líderes do PT, Falcão não cita nomes, mas se refere principalmente ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A criminalização do PT estaria, por exemplo, nas sucessivas tentativas de relacionar o PT com as Farcs. Até o sequestro do empresário Abílio Diniz, em pleno processo eleitoral de 1989 (um dos sequestradores usava uma camiseta do PT) é lembrado.
"Agora há até uma investida contra a política, que é uma maneira de nivelar todos os partidos políticos. Um udenismo pós moderno. E uma certa torcida contra o desempenho da economia, como se a crise atingisse o Brasil fosse trazer dividendos eleitorais para a oposição. Exemplo disso é a investida do senador Aécio Neves e do PSDB contra a redução da tarifa de energia".
Mas não é exatamente o que o PT fazia quando estava na oposição ao governo do PSDB?
"A diferença é grande. Na oposição apresentávamos um programa alternativo de Brasil, tanto na área econômica como na área social, tínhamos já um ponto de vista sobre a inserção do Brasil no mundo. O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso fez uma inserção de forma subordinada. Lula fez a inserção soberana do país, abriu novos mercados, estimulou a integração da economia brasileira na América do Sul, abriu mercados na África, China, Oriente Médio e passamos da condição de devedores para a condição que hoje somos de credores do FMI", distingue. Isso tudo será destacado nas celebrações pelos 33 anos do PT e de dez anos de governos liderados pelo partido.
Interlocutor assíduo de Dilma, com quem gosta de conversar sobre política econômica, Falcão não demonstra preocupação com o PIB abaixo do 1% do último trimestre, "vamos ver a anualização desses dados", e se diz convencido de que as "várias medidas tomadas por Dilma precisam de mais tempo para amadurecer. A compra de máquinas já aumentou esse mês", diz. Além disso, apesar da crise mundial, há manutenção de emprego. Então qual o problema, excesso de intervencionismo estatal? "Isso são aqueles que não querem que o BNDES funcione, que não querem a regulação dos portos e aeroportos e principalmente não querem que o Estado tenha um papel de planejamento e ser indutor do desenvolvimento".
Fonte: Valor Econômico
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