• Desordem e descrédito políticos causam derrota de Dilma no INSS, obra também da oposição mesquinha
- Folha de S. Paulo
A mudança das regras da aposentadoria foi, claro, uma derrota do governo. Mais importante, foi uma vitória do populismo, da ignorância, da pequenez e, francamente, do espírito de porco político.
Tal como aprovada na Câmara, a nova regra para o cálculo de idade e benefícios da aposentadoria pelo INSS não terá impacto relevante nas contas públicas antes de cinco anos. Ou seja, lá pelo segundo ano do mandato do próximo presidente da República. No entanto, há e haverá perdas e danos para o país. A derrota de anteontem do governo é sintoma de que a chapa da crise pode voltar a ferver.
Primeiro, nota-se que a porteira de malefícios do Congresso está aberta, sem mata-burros. Por ali ainda podem passar manadas de ideias doidivanas ou coisa pior. O ajuste fiscal, o mínimo para evitar desastres econômicos adicionais, foi aprovado, diminuído, apenas na Câmara. Imaginava-se que não haveria reveses extras no Senado. Só que não.
Segundo, a desordem política continua. A instabilidade política e a incerteza genérica que provoca sobre o futuro imediato do país por si só tendem a solapar a confiança econômica.
Terceiro, ficou outra vez evidente que não há compromisso no Congresso com a viabilidade não apenas do governo mas com a do Estado brasileiro, com as perspectivas econômicas de qualquer prazo. Pode-se defender o que quiser para o INSS, mas é preciso encontrar fundos para financiá-lo sem que se solape o crescimento econômico que vai sustentar os brasileiros, da ativa ou na aposentadoria. Não é o que está em discussão no Congresso.
Quarto, é agora inegável o espírito de porco da oposição, em especial do partido que quase chegou ao poder federal em 2014. O PSDB votou em massa pela mudança nas aposentadorias, legislação proposta pelo governo FHC. Mais que isso: leis votadas a fim de atenuar os problemas da Previdência, que, no entanto, continuaram a aumentar.
O PSDB votara contra o ajuste fiscal sem exposição de motivos. Poderia ter apresentado um plano alternativo ou maior a fim de justificar seu voto contrário. Não o fez, apesar de seus economistas terem ideias muito boas a respeito. Não o fez por espírito de porco, ignorância e populismo, agindo tal como o PT em relação aos governos tucanos.
Os pardaizinhos raivosos e direitistas que ora compõem a base do tucanato podem argumentar que votaram na linha do que Aécio Neves propunha vagamente na campanha de 2014, uma "rediscussão" do fator previdenciário, na verdade uma conversa mole para manter a Força Sindical a seu lado, para desgosto de seus economistas.
No entanto, o PSDB não rediscutiu nada, nem antes nem agora; não faz governo paralelo, não apresenta programa, coisa que o governo Dilma 2 não tem além de Joaquim Levy. O PSDB no Congresso faz apenas chacrinha, avacalha de modo oportunista e aproveitou para dar mais um tiro no avariado governo Dilma 2.
O tiro, porém, pode sair pela culatra, e seria ridículo se não fosse de mesquinharia revoltante e daninha: caso o PSDB vença o direito de administrar o que terá sobrado do país, a partir de 2019, serão os tucanos os responsáveis por administrar a lambança que aprovaram agora. E a coisa pode ficar pior no Senado.
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