- Folha de S. Paulo
É quase sempre divertido rever fotos antigas. As de políticos agora citados pelos delatores da Odebrecht desfilando por protestos contra a corrupção são, merecidamente, um sucesso desta semana.
Por mais que o humor seja ótimo instrumento de crítica política, vale sempre dar um passo atrás para retomar o óbvio, e o óbvio não é tão engraçado assim. Em depoimentos formais, dezenas de executivos de algumas das maiores empresas do Brasil estão afirmando que um número significativo de pessoas eleitas para cargos públicos utilizaram caminhos que, no fim das contas, desviaram dinheiro dos contribuintes para o bolso delas e de seus partidos.
Que moral têm essas pessoas eleitas para exigir que a sociedade repasse mais dinheiro para o controle delas neste momento? A volta do zum-zum-zum de aumento de impostos é um acinte por si só.
Em alguns lugares do país, a facada tributária não é apenas conversa. O Rio de Janeiro acaba de elevar alíquotas de ICMS, e outros Estados estão no mesmo caminho. No caso do Rio, a previsão é que o pacote aumente a receita em R$ 800 milhões no ano que vem —só para comparar, apenas o ex-governador Sérgio Cabral está sendo acusado de desviar mais do que um quarto desse valor.
Na esfera federal, o Congresso com maior avaliação negativa já registrada pelo Datafolha se ocupa de mudanças necessárias que envolvem corte de gastos, como a PEC do Teto, e enfrentamento de privilégios, caso da Previdência. Mas essa estrutura carcomida pelas suspeitas não tem estatura para pedir que os cidadãos joguem mais dinheiro numa máquina cheia de furos.
A história está cheia de exemplos de líderes políticos que deram um passo em falso ao achar que havia condição de tomar mais dinheiro da sociedade —a Revolução Francesa é o mais notório deles. A indignação pode ter lá seu efeito anestésico, mas a anestesia uma hora passa.
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