A hesitação do presidente Michel Temer em livrar-se dos auxiliares sobre os quais pairam suspeitas de corrupção tem sido fundamental para o enfraquecimento de seu governo. Nessa hora em que predomina a confusão, com ares de ruptura, é preciso lembrar que a crise econômica, para cuja solução o presidente tem dedicado genuíno esforço, só será superada quando for controlada a crise política, derivada do impressionante colapso moral revelado pela Lava Jato.
Temer fez bem de aceitar a demissão de seu assessor especial, José Yunes, apontado por um delator da Odebrecht como o intermediário de um repasse de R$ 10 milhões ao PMDB na campanha de 2014. E fará melhor ainda se afastar, entre outros, os membros do gabinete Moreira Franco e Eliseu Padilha, integrantes do chamado “núcleo duro” do governo, também citados no escândalo.
Ambos negaram rumores de que pediram para sair. “Não abandono lutas quando acredito nelas”, disse Moreira. “Não vou deixar o presidente na mão”, mandou dizer Padilha. Sendo assim, cabe a Temer tomar a iniciativa de fazer o que é melhor para seu governo e para o País, dispensando, sem mais delongas, tão leais servidores, que, por serem da absoluta confiança do presidente, foram importantes para a montagem do governo logo em seguida ao impeachment de Dilma Rousseff, mas hoje são o seu calcanhar de aquiles.
Nunca é demais lembrar que Dilma caiu não em razão do desastre econômico de sua administração, mas sim por seu desgoverno. Temer, muito mais habilidoso do que a petista, tem conseguido até aqui mobilizar o Congresso em torno de pautas importantes, mas a margem de segurança com a qual trabalha está se estreitando de forma acelerada, especialmente à medida que a enxurrada de delações de executivos da Odebrecht – vazadas à imprensa por gente interessada em encurralar o mundo político – ameaça comprometer os atuais pilares da administração.
É nesse momento que oportunistas de todos os tipos – ou porque são corruptos e querem se proteger, ou porque são candidatos à cadeira de Temer, ou porque são organismos adaptados à água turva – começam a se movimentar para ocupar os espaços deixados pela tibieza do Palácio do Planalto, criando-se uma atmosfera que sufoca a razão e o interesse público. Crescem também, a partir de movimentos impulsionados por redes sociais, à direita e à esquerda, campanhas em favor de soluções radicais e extemporâneas, numa confluência de irresponsáveis que têm na luta contra a corrupção sua causa em comum, alimentada diuturnamente pela imprudência de promotores públicos que se julgam em uma cruzada para limpar o País dos ladrões de dinheiro público.
Há quem defenda a volta dos militares ao poder, mesmo depois da trágica experiência do regime de exceção. E há quem advogue que se rasgue a Constituição para se permitir o encurtamento do mandato presidencial e a convocação de eleições diretas. Tanto no caso do golpe militar quanto no do golpe parlamentar, o que se tem é a visão de que o atual edifício institucional do País está podre e precisa ser implodido, soterrando sob seus escombros os pactos democráticos anteriormente firmados.
Ainda é possível frear essa marcha insensata, que ameaça colocar o País de vez no rumo do desconhecido. Para isso, Temer tem de se mostrar intransigente com a corrupção, pois seu governo precisa corresponder às expectativas gerais não apenas de competência, mas sobretudo de honestidade.
Quanto à possibilidade de o próprio Temer vir a ser envolvido no escândalo, por conta das novas delações da Lava Jato, é bom lembrar que isso não representaria nenhuma ameaça prática e real à estabilidade institucional, pois, ao menos enquanto prevalecer o que está previsto na Constituição, o presidente só pode ser processado por crimes cometidos no exercício de seu mandato. Se tiver contas a ajustar com a Justiça, será depois de 2018. Nesse meio tempo, o País poderá encontrar, com calma, o caminho de saída da crise. É justamente dessa situação favorável que Temer deve extrair a força política necessária para cumprir o imperativo de limpar seu governo, neutralizar os insensatos, mobilizar o Congresso em favor dos interesses nacionais e, principalmente, ajudar a reconstruir os alicerces morais do País.
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