Com a colheita de grãos em andamento, aguarda-se um recorde no setor agrícola. Para a debilitada economia nacional, trata-se de alento considerável.
Segundo a estimativa oficial mais recente, a safra pode aproximar-se dos 220 milhões de toneladas, superando em 17% a cifra do ano passado. Os ganhos não se limitam à renda no campo: a ampla disponibilidade de alimentos favorece a queda da inflação e o corte dos juros pelo Banco Central.
Comparada aos demais setores produtivos, a agropecuária vive de fato momento invejável, ajudada pelo clima e pela melhora de preços. Calcula-se que a venda de produtos —incluídos na conta carne, leite, frutas e outros— atinja montante superior aos R$ 500 bilhões.
As projeções para a expansão do PIB do setor neste 2017 rondam os 4%. Para a economia como um todo, a aposta mais consensual não passa de um magro 0,5%.
É verdade que a produção rural primária representa uma parcela modesta do PIB total do país, na casa dos 5%. Entretanto, a proporção chega aos 20% quando se considera toda a cadeia do agronegócio, que abrange maquinário, pesquisa, serviços associados, transportes e logística.
Há, portanto, um impulso em potencial que pode se multiplicar pelo restante das atividades. A resposta é rápida quando existe conexão direta: em um exemplo, a venda de máquinas agrícolas subiu impressionantes 75% em janeiro, ante o mesmo mês de 2016.
O reforço à mesa das famílias tampouco deve ser subestimado. Os alimentos estiveram entre os grandes vilões da inflação no ano passado, com alta acumulada acima dos 9% (a taxa beirou os 17% no período de 12 meses encerrado em agosto de 2016). Agora, espera-se um índice confortavelmente abaixo dos 5%.
Apesar de transitória, a contribuição da safra para a estabilidade dos preços torna mais provável que o IPCA, adotado como referência para a política do Banco Central, feche o ano abaixo da meta de 4,5%. Vislumbra-se, assim, uma trajetória de queda consistente das taxas de juros.
Por fim, a alta da produção agrícola e os preços mais altos em dólar —cerca de 10% acima dos patamares de 2016— resultarão em maior receita de exportações. As expectativas de analistas compiladas pelo Banco Central apontam para um saldo comercial próximo de US$ 50 bilhões.
Salva-se primeiro a lavoura no ano em que, tudo indica, a recessão ficará para trás. A indústria combalida deve apresentar ligeira melhora; o setor de serviços tende a permanecer estagnado. Sem o campo, estaríamos pior.
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