Ex-ministro do Supremo se filiou ao partido mas ainda não decidiu se disputará a Presidência da República
Catarina Alencastro | O Globo
-BRASÍLIA- Antes mesmo de o exministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Joaquim Barbosa dar-se por convencido de ser candidato à Presidência da República, o PSB, partido que o abrigou, tem manifestado nos bastidores preocupação com o fato de ele ser neófito na política e ter um temperamento explosivo. Traumatizada com o fracasso da última candidatura presidencial, a sigla teme reviver problemas semelhantes aos que enfrentou com Marina Silva, cuja inflexibilidade atrapalhou a conquista de apoios no pleito de 2014.
— Todo mundo tem essa preocupação de que ele perca a calma e bote tudo a perder. Ou que seja inflexível demais. Mas ele não é mais o ministro do Supremo que todos conheceram. Ele largou a toga — diz um dos defensores do projeto presidencial de Barbosa no PSB.
A impulsividade de Barbosa, no entanto, foi exposta logo no primeiro encontro oficial que o PSB promoveu, na semana passada, para que o ex-ministro do STF conhecesse os principais caciques pessebistas. Na saída, questionado pela imprensa se uma demora em decidir sobre a candidatura poderia prejudicar o projeto, respondeu com outra pergunta:
— Who cares? — disse ele, lançando mão da expressão em inglês que significa “quem se importa?”.
Um dos maiores entusiastas do projeto Barbosa, o presidente do PSB, Carlos Siqueira, tenta minimizar as preocupações:
— Ele não é impermeável. Esperamos que ele tenha capacidade de negociação. O presidencialismo nosso é de coalizão, e não tem outra forma.
Mas o fato é que o PSB conhece muito pouco Barbosa. Quando um grupo de nove deputados do partido desembarcou em São Paulo, em dezembro, numa investida para tentar trazer o relator do mensalão para a sigla, foi preciso uma reunião prévia entre os parlamentares para acertar o tom.
O líder do grupo, deputado Júlio Delgado (MG), era o único que já tinha estado com Barbosa antes e alertava que ele era muito sério e formal. O Joaquim Barbosa que os esperava à porta do elevador de seu escritório, no entanto, surpreendeu a todos. “Simples e sem frescura”, descreveu um. Aos políticos disse que seu momento de fama já tinha passado, referindo-se ao período em que ocupou a relatoria do mensalão e a presidência do STF.
— Aí é que o senhor se engana. Se quiser encarar uma disputa à Presidência, terá que estar preparado para tudo. Vão devassar a vida do senhor — disse um dos presentes.
Joaquim respondeu que estava preparado e enumerou os casos que seriam desenterrados: um apartamento que comprou em Miami para o filho e uma acusação de agressão à ex-mulher, na década de 80. Ao grupo, deu as explicações que terá de repetir à exaustão, caso se lance mesmo na jornada rumo ao Palácio do Planalto.
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