terça-feira, 17 de julho de 2018

Raymundo Costa: O pior inimigo de Ciro é o próprio Ciro

- Valor Econômico

DEM e Ciro Gomes estiveram juntos na eleição de 2002

O Democratas (DEM) decidirá nos próximos dias o candidato a presidente ao qual fará o empenho do seu tempo de TV nas eleições de 2018. Pode até ser nenhum, pois o partido não está em condições de desperdiçar recursos financeiros na sucessão presidencial. Seu objetivo principal é aumentar a bancada de deputados federais, a fim de assegurar a sobrevivência e se credenciar para voos maiores nas eleições de 2022. Embora com percentual (1,5%) não muito difícil de ser ultrapassado, a cláusula de barreira começa a funcionar a partir desta eleição. Se o DEM apoiar algum nome, o escolhido deve sair entre Geraldo Alckmin (PSDB) e Ciro Gomes (PDT), segundo afirmam seus dirigentes.

O DEM é o legítimo sucessor da Arena - o partido de sustentação ao regime militar - e do PFL. Sua maior identidade programática é com o PSDB de Alckmin, sigla com a qual esteve no governo durante os oito anos de Fernando Henrique Cardoso (1994-2002). Nos últimos dias, Ciro chegou a mandar recados para o DEM dizendo que suas diferenças com o mercado não são incompatíveis. Exemplo citado pelos assessores é a boa acolhida que o pré-candidato teve na XP, a corretora que mais de perto marca os presidenciáveis. Em tese a aliança Ciro-DEM é improvável, mas já aconteceu numa eleição presidencial.

O episódio ocorreu em 2002 e é pedagógico para quem hoje acompanha as idas e vindas do DEM. Durante oito anos, FHC governou com a estabilidade proporcionada pela aliança PSDB-PFL. Desde os primeiros conchavos da sucessão ficou evidente que o PSDB iria indicar o então ministro da Saúde José Serra como candidato, com o apoio do Palácio do Planalto. A governadora do Maranhão, Roseana Sarney, do PFL, começava a despontar nas pesquisas como uma possibilidade viável. Em março de 2002 a Polícia Federal apreendeu R$ 1,3 milhão na sede da construtora Lunus, empresa ligada aos Sarney.

O estouro do Caixa 2 da campanha de Roseana foi um escândalo que levou a governadora, mais adiante, a desistir de sua candidatura. Apesar dos desmentidos, o PFL atribuiu a operação da PF a uma ação do Planalto para beneficiar a candidatura de Serra. PFL e PSDB já haviam se afastado nas eleições para as presidências da Câmara e do Senado, partilhadas pelo PSDB e o PMDB (hoje MDB). Os pefelistas ainda apostaram que os tucanos trocariam Serra por Tasso Jereissati como candidato. "Se der o Serra, eu vou para a praia pescar", dizia o então presidente do partido, Jorge Bornhausen. Foi pescar. Não sem antes apoiar Ciro.

O PFL apoiou publicamente o candidato do PPS, mas não deu o tempo no horário gratuito para Ciro Gomes, que era o que importava, à época assim como agora. A coligação de Ciro era integrada pelo PPS, partido ao qual estava então filiado, o PTB, que ofereceu o candidato a vice-presidente na chapa, Paulo Pereira da Silva, hoje no Solidariedade, e o PDT, abrigo atual do candidato. As divergências do pedetista com PFL na ocasião eram menores que agora, quando entre outras coisas defende mudar a reforma trabalhista aprovada no Congresso com o apoio do DEM. Ciro havia sido ministro da Fazenda do governo FHC. E os banqueiros desconfiavam de Serra.

A Frente Trabalhista, denominação da coligação de Ciro Gomes, ficou em quarto lugar na eleição. No segundo turno, apesar dos ressentimentos, o PFL apoiou José Serra contra Luiz Inácio Lula da Silva, apesar de na virada de um turno para o outro o candidato do PT já aparecer como franco favorito. Ciro até teve um bom momento, em 2002, quando encostou em Lula nas pesquisas de opinião. Tudo indicava que poderia decolar, mas perdeu a batalha para o próprio destempero. O pior inimigo de Ciro é ele mesmo. A máxima serviu em 2002 e serve agora para o ano da graça de 2018.

No fim de semana, o governador de Minas Gerais, Fernando Pimentel, sugeriu que o PT poderia apoiar Ciro Gomes, se a candidatura Lula for impugnada pela Justiça Eleitoral, como tudo indica. Entre pessoas próximas ao ex-presidente afirma-se que Ciro é o pior e o melhor candidato para o PT apoiar. O melhor porque tem preparo, foi um bom ministro de Lula, é leal e não tem medo de botar a cara para bater. O pior porque não mediu consequências ao criticar Lula, com virulência, ao atacar o PT e por ser inconveniente nas articulações políticas (não sabe guardar segredo). Por tudo isso os amigos de Lula já dão razão à senadora Gleisei Hoffmann, presidente do partido, segundo a qual: o PT não vota em Ciro "nem que a vaca tussa".

Superprodução
A Justiça Federal de Brasília absolveu sete acusados de conspirar para supostamente comprar o silêncio e patrocinar a fuga do ex-diretor da área Internacional da Petrobrás, Nestor Cerveró. Entre eles o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o banqueiro André Esteves e o ex-senador Delcídio Amaral. Foi uma das ações mais espetaculosas no âmbito da Lava-Jato. O ex-ministro Teori Zavascki, morto em 2017, convocou uma reunião extraordinária do Supremo para deliberar sobre uma acusação "gravíssima" e os implicados acabaram todos presos. Delcídio perdeu o mandato, o banqueiro teve a cabeça raspada para o escárnio público e o Banco Pactual por pouco não vai pelo ralo. Uma superprodução Rodrigo Janot.

Diferenças
A desilusão com a política e o alto índice de não-voto na eleição suplementar para o governo do Tocantins, em junho último, não bastam para justificar a elevada apreensão com o absenteísmo na eleição de 7 de outubro. A soma dos votos nulos, brancos e abstenção, no Tocantins, chegou a 51,84% dos votos, no segundo turno, mas é preciso destacar que se tratou de uma eleição solteira, como foi a eleição presidencial no Brasil de 1989. As eleições deste ano serão casadas. Além do presidente, o eleitor vai escolher candidatos ao Senado e deputados estaduais e deputados federais - os dois últimos os que efetivamente fazem a política na base. O não-voto está em alta, mas tem sido irregular ao longo das eleições: 18,37 (1989), 36,56% (1994), 40,19% (1998), 28,13 (2002), 25,16% (2006), 26,76 (2010) e 29,03% (2014).

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