domingo, 9 de setembro de 2018

Campanhas reveem tática após ataque a Bolsonaro

Adversários suspendem críticas e adotam trégua temporária; agressor é transferido para presídio federal

O ataque contra Jair Bolsonaro (PSL) levou as campanhas de seus adversários a rever suas estratégias. As críticas estão suspensas, ao menos até que o presidenciável se recupere. O autor do atentado, Adélio Bispo de Oliveira, foi transferido para uma prisão federal em Campo Grande (MS).

Pausa nos ataques

Marina, Alckmin, Ciro e Haddad freiam estratégias e fazem cálculos pós-atentado

Fernanda Krakovics, Luís Lima, Catarina Alencastro, Cristiane Jungblut, Maria Lima, Sérgio Roxo e Cleide Carvalho | O Globo

RIO, SÃO PAULO E BRASÍLIA - O atentado contra o candidato do PSL à Presidência e líder nas pesquisas, Jair Bolsonaro, levou seus principais adversários a reverem estratégias de campanha. Em um primeiro momento, as críticas ao deputado serão suspensas e os presidenciáveis pretendem adotar tom de conciliação. Em reunião de emergência após o ataque ao ex-capitão, o comando da campanha do candidato do PSDB à Presidência, Geraldo Alckmin, acertou duas medidas: o tucano não vai mais fazer declarações contra Bolsonaro, a quem chamou de “despreparado” durante a semana, e serão suspensas as críticas diretas a ele na programa de TV. No encontro, que teve a presença de Alckmin, ficou acertado que a campanha adotará um tom de moderação e vai procurar enfatizar o perfil conciliador do tucano. O discurso será o de que o Brasil não pode tomar o caminho da radicalização. —Os programas dos próximos dias serão na linha do diálogo, do respeito e ressaltarão a capacidade de Alckmin para agir nas horas de crise — disse um integrante do núcleo da campanha tucana.

“UNIR SEM RANCOR”
O freio nos ataques dependerá, porém, da evolução do quadro clínico de Bolsonaro. A ideia é retomar a tentativa de desconstrução do candidato do PSL assim que o cenário estiver mais claro. Os tucanos lembram de 2014: após a morte do presidenciável Eduardo Campos (PSB) em um acidente aéreo, houve uma trégua. O cessar fogo, no entanto, foi suspenso assim que a comoção em torno da tragédia passou. Na campanha da candidata da Rede, Marina Silva, também haverá reorientação: seu comando vai apostar na sua imagem de conciliadora. Marina pregará o arrefecimento da radicalização entre os extremos — sejam esses “extremos” Bolsonaro e Fernando Haddad (que deve ser oficializado candidato do PT) ou Bolsonaro e Ciro Gomes (PDT).

— Marina é única que pode unir o Brasil sem rancor. — diz o coordenador político da Rede, Pedro Ivo. Na avaliação da campanha de Marina, o atentado contra Bolsonaro causou uma comoção no primeiro momento, mas, depois, o eleitor vai procurar o candidato que se apresentará como um conciliador. — Conflitos políticos geram insegurança geral, inclusive para investidores. Marina continua sendo a candidata da pacificação — diz o deputado Miro Teixeira (Rede-RJ), do conselho da campanha de Marina. Os estrategistas da ex-senadora avaliam que o atentado ajudará Bolsonaro a consolidar sua vaga no segundo turno, pelo lado da direita. Na esquerda, para eles, haverá uma disputa pelo espólio eleitoral de Lula entre Marina, Haddad e Ciro.

Já a campanha do candidato do PDT à Presidência, Ciro Gomes, reagiu com cautela e aguarda a divulgação de pesquisa Datafolha, amanhã, para ter maior clareza do cenário. Um integrante da equipe avalia que há risco de aumento de um tipo de voto mais “passional”, favorável a Bolsonaro. Por ora, o diagnóstico de como isso afetará a campanha do pedetista, bem como as eleições de forma geral, ainda é incerto, mas há uma percepção de que o fato radicaliza posições tanto à esquerda, quanto à direita. Ciro minimizou, anteontem, o impacto eleitoral do atentado contra Bolsonaro. — Não creio em grandes mudanças, se ele de fato está bem (de saúde) — disse Ciro Gomes, ao GLOBO.

Já o presidente do PDT, Carlos Lupi, foi mais cauteloso: — Vamos aguardar a poeira baixar para ver. O primeiro momento é de solidariedade e ver como se comporta o eleitorado.

CRÍTICAS AO USO POLÍTICO
Lupi, no entanto, criticou o deputado estadual Flávio Bolsonaro (PSL-RJ). Logo após o atentado, o candidato ao Senado escreveu em uma rede social que o pai está pronto para ser eleito no primeiro turno.

— Não é bom usar isso politicamente —afirma Lupi. O ataque a Bolsonaro ocorreu no momento em que Ciro parecia ter encontrado uma brecha para sair da terceira posição nas pesquisas. Ele tenta aproveitar a demora do PT em oficializar Haddad como substituto de Lula para ganhar eleitores do petista, principalmente no Nordeste. Segundo pesquisa Ibope divulgada na última quarta-feira, Ciro foi o único candidato a subir além da margem de erro, saindo de 9% para 12%. No Nordeste, ele cresceu seis pontos —de 14% para 20% — e saiu da terceira para a primeira colocação. O PT, por sua vez, avalia que o atentado não afetará a estratégia montada pelo partido para que Haddad herde os votos de Lula. Para os petistas, Haddad não disputa o mesmo grupo de eleitores que o militar, por isso não haveria impacto.

Amanhã, Haddad deve visitar Lula em Curitiba, onde o ex-presidente está preso. A expectativa do ex-prefeito de São Paulo é sair de lá com a carta em que o líder petista o indica como seu substituto no posto de candidato a presidente. Embora ainda se apresente como vice, o ex-prefeito de São Paulo tem cumprido extensa agenda de viagens e exposições de campanha em nome de Lula.

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