- O Estado de S. Paulo
A atriz Regina Duarte deverá ser a nova secretária de Cultura do governo Bolsonaro. Apesar de todo o desgaste político provocado pela crise no setor, o entusiasmo do mercado não foi afetado, em mais uma situação em que a economia precisou resistir a polêmicas desnecessárias
Fim da confusão. Desde a sexta-feira passada, o governo tem concentrado suas atenções na crise provocada pelo vídeo do então secretário de Cultura Roberto Alvim, com claras inspirações nazistas. O discurso alucinado de Alvim provocou reações indignadas até de aliados de Jair Bolsonaro, desgastou politicamente o presidente e custou a cabeça do secretário. Hoje, Bolsonaro avançou na substituição com um convite praticamente aceito por Regina Duarte, com que se encontrou no Rio. O presidente disse que os dois estão "noivando".
Vai dizer sim. A noiva Regina já avisou a amigos que vai topar o convite, o que fará com que se licencie da Rede Globo, onde trabalha há 50 anos. Apoiadora de Bolsonaro, a atriz se tornou imediatamente alvo dos partidos de esquerda e do meio artístico mais engajado. Mas sua chegada ao governo, inegavelmente, é um movimento positivo para os bolsonaristas. Ao contrário de Alvim, que era um dos principais líderes da guerra ideológica contra a esquerda produzida no setor, Regina é uma atriz de grande popularidade e já avisou que pretende pacificar a relação beligerante do governo com o meio cultural.
Autonomia. A grande dúvida é qual política pública Regina pretende adotar para o setor. Outra pergunta é se ela terá autonomia no cargo. A posição política conservadora da atriz é conhecida há décadas. Mas também se sabe que ela passa longe da ala radical do bolsonarismo. Apesar disso, sua posição dura contra o especial de Natal feito pelo Porta dos Fundos foi muito lembrada, num questionamento sobre até onde a atriz pretende se alinhar com Bolsonaro e seus seguidores dentro do governo.
Dá para rir, dá para chorar. Colocar uma atriz importante na sua equipe de governo é, sem duvida, um fato positivo para o presidente, especialmente num momento em que acaba de enfrentar uma crise que associa um de seus auxiliares ao nazismo. Mas se, eventualmente, Regina se incomodar com seu trabalho na secretaria e decidir pular fora do barco, o prejuízo político para Bolsonaro será proporcional ao prestígio da atriz.
O que interessa. Em vez de estar apagando incêndios políticos, Bolsonaro poderia estar batendo hoje seu bumbo por outro recorde no desempenho da Bolsa. Nesta segunda, mesmo sendo feriado nos Estados Unidos pelo dia de Martin Luther King, a Bolsa brasileira estabeleceu mais um recorde chegando a 118.861 pontos. Apesar de toda a balbúrdia na Cultura do governo, os investidores mostraram toda a indiferença do mundo e focaram suas atenções na economia.
A economia que lute. As atenções do governo, na verdade, deveriam estar justamente na economia, até pelo começo do Fórum Econômico Mundial, em Davos. Depois de fazer um discurso decepcionante de apenas seis minutos no ano passado, Bolsonaro desistiu de voltar ao evento este ano. Apesar disso, o ministro da Economia, Paulo Guedes, que participa do encontro, vai tentar aproveitar a ocasião para mostrar os avanços na economia brasileira desde o início do novo governo, especialmente no ajuste fiscal. Sua participação representará o único esforço do governo para atrair as atenções dos investidores internacionais.
Prioridades. Depois das críticas recebidas no ano passado, Bolsonaro preferiu ficar bem longe de Davos. Mas alguns de seus possíveis adversários em 2022, o governador de São Paulo, João Doria, e o apresentador Luciano Huck, estarão no evento apresentando suas ideias sobre economia e desenvolvimento. Para Bolsonaro, sobrou negar a associação do seu governo com nazismo e debelar a crise da Cultura. Criada, diga-se de passagem, pela própria vontade do presidente de manter um combate ideológico no setor. Se problemas como esse não fossem recorrentes, talvez o recorde da Bolsa já fosse até maior e Guedes poderia estar apresentando um cenário mais positivo em Davos.
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