General
tenta reescrever história porque sabe que realidade incrimina o governo
Eduardo
Pazuello prestou um serviço à CPI da Covid. No primeiro dia de depoimento do
general, os senadores queriam saber detalhes sobre a sabotagem do governo à
negociação de vacinas e sobre a tentativa de empurrar cloroquina para a
população. O ex-ministro mentiu tanto
sobre esses assuntos que praticamente entregou aos
investigadores uma admissão de culpa.
O general sabe o que fez à frente do Ministério da Saúde. Na CPI, ele tenta reescrever essa história porque sabe que a realidade é uma coletânea de atos que contribuíram para o agravamento da pandemia. Pazuello tentou se proteger e blindar o chefe Jair Bolsonaro, mas acabou mostrando que o governo tem medo de seus próprios delitos.
O
ex-ministro tratou como um delírio a guerra pública de Bolsonaro contra a
Coronavac –que hoje representa a maioria das doses aplicadas no país. Pazuello
disse que o presidente nunca deu a ordens para desfazer qualquer acordo com o
Instituto Butantan para adquirir a vacina.
O
próprio governo, porém, fez propaganda desse veto. Em 21 de outubro, depois que
Pazuello anunciou a compra, o número dois do Ministério da Saúde negou o acordo
e disse que o fato havia sido "mal interpretado". Orgulhoso,
Bolsonaro afirmou publicamente que havia mandado
cancelar o negócio. Se o general não mentiu à CPI, acusou o
presidente de ter mentido a seus apoiadores.
Pazuello
também tentou ocultar o papel do governo no incentivo ao uso indiscriminado de
cloroquina. O general disse que a plataforma do Ministério da Saúde que
recomendava o remédio até para bebês nunca havia entrado em operação. Em janeiro,
no entanto, durante um evento com a participação dele, uma
secretária da pasta anunciou que o sistema já poderia ser
acessado para facilitar o "tratamento precoce".
A CPI investiga as ações em que o governo desprezou a imunização e estimulou o uso de um medicamento ineficaz. O país já conhece essa história, mas as confissões indiretas do general facilitam o trabalho.
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