Correio Braziliense
Mais uma vez, Bolsonaro tenta
utilizar as Forças Armadas para desacreditar o processo eleitoral, o que faz
parte de uma estratégia ensaiada em outros momentos, como o 7 de setembro
passado
O presidente Jair Bolsonaro voltou a
levantar suspeitas sobre a segurança das urnas eletrônicas e disse que até
mesmo o novo presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministro Edson
Fachin, não acredita no sistema eleitoral brasileiro. Em reposta, ontem, o TSE
divulgou as informações prestadas às Forças Armadas sobre o processo eletrônico
de votação.
Na terça-feira, Fachin, que assumirá a
presidência da Corte na próxima semana, afirmara que a “Justiça eleitoral já
pode estar sob ataque de hackers”. Segundo o magistrado, que escolheu o slogan
“paz e segurança nas eleições” para o pleito deste ano, os ciberataques
aumentaram nos últimos meses.
As ameaças partem não apenas de atividades criminosas, mas de países como Rússia e Macedônia. Segundo Fachin, relatórios internacionais indicam que 58% dos ataques têm como origem a Rússia. Coincidentemente, desde a semana passada, a polêmica sobre a segurança das urnas voltou às redes sociais. Segundo Bolsonaro, o Ministério da Defesa havia apontado falhas no sistema operacional. Na verdade, o que houve foi um pedido de informações sobre o funcionamento do sistema e seu sistema de segurança, devidamente respondido pelo TSE. Ataques de hackers são constantes nas eleições, mas, até hoje, não tiveram sucesso.
Diante das novas declarações de Bolsonaro,
o TSE decidiu divulgar as perguntas dos militares e as respostas que deu. Uma
delas foi sobre a substituição de cartões de memória por entradas USB, no novo
modelo de urna eletrônica. O TSE respondeu que somente os dispositivos
conhecidos que já integram a urna são aceitos nas portas USB: “Caso seja
identificado um dispositivo não conhecido em qualquer porta, o sistema
operacional da urna desliga a alimentação da porta USB. Dispositivos conhecidos
conectados em portas diferentes da esperada resultam no bloqueio da urna pelo
sistema operacional. Todo dado sensível que trafega pelo barramento USB é
protegido por criptografia”.
O TSE também esclareceu que a fabricação de
urnas eletrônicas é auditada diretamente na linha de produção, de acordo com as
exigências técnicas e especificações estabelecidas na licitação dos serviços.
“As urnas eletrônicas estarão submetidas a todos os eventos de fiscalização e
auditoria. Os Testes Públicos de Segurança têm como objeto o último modelo de
urna que teve seu sistema totalmente implementado e em produção”.
Descrédito
Mais uma vez, Bolsonaro tenta utilizar as
Forças Armadas para desacreditar o processo eleitoral, o que faz parte de uma
estratégia ensaiada em outros momentos, especialmente às vésperas do 7 de setembro
do ano passado, com propósitos claramente golpistas. Essa estratégia é
alimentada também pelo ministro da Defesa, Braga Neto, que incentiva os
questionamentos e tem a ambição de ser vice-presidente da República.
A retomada da polêmica, de certa forma,
contribuiu para que o general Luiz Fernando Azevedo, que antecedeu Braga Neto,
tenha decidido não assumir a diretoria-geral do TSE, cargo para o qual havia
sido convidado pelo ministro Luís Roberto Barroso, que deixa o comando da
Corte. O ex-ministro da Defesa alegou motivos de família.
A logística de realização das eleições,
tradicionalmente, conta com o apoio das Forças Armadas, não só para garantir a
realização do pleito em regiões remotas ou de alta criminalidade, como também
por razões logísticas — ou seja, o transporte e a segurança das urnas
eletrônicas.
O recrudescimento da narrativa de Bolsonaro
sobre a falta de segurança na apuração dos votos coincide com a viagem a
Moscou, a convite do presidente russo Vladimir Putin. Hackers russos são
acusados de interferir nas eleições norte-americanas em favor de Donald Trump,
por meio de ataques de hackers e fakes news. Na terça-feira, o TSE fechou um
acordo com as plataformas WhatsApp, Twitter, TikTok, Facebook, Google,
Instagram, YouTube e Kwai para criar mecanismos para conter a disseminação de
mentiras. No WhatsApp, deve ser implementado um canal para informar eleitores.
Entretanto, a rede social russa Telegram
não tem escritório no Brasil e não participa do acordo. “Estamos todos
preocupados e empenhados em preservar um ambiente de debate livre”, disse
Barroso, ao anunciar o acordo, um de seus legados como presidente do TSE.
Como o vereador carioca Carlos Bolsonaro,
filho de Bolsonaro, acompanhou o pai na comitiva em Moscou e manteve uma agenda
paralela, como se estivesse fazendo turismo, há suspeitas de que estaria
fazendo entendimentos para a contratação de hackers russos para a campanha.
Eles são especialistas em fake news. Carlos é o responsável pela atuação do pai
nas redes sociais, nas quais o presidente tem cerca de 45 milhões de
seguidores.
Um comentário:
Bolsonaro e suas encrencas.
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