O Globo
Presidente eleito ganhou favor de um
empresário cujos negócios dependem do governo, para o bem ou para o mal
Qual a diferença entre tomar um jatinho de
empréstimo ou pegar uma carona nesse avião? Nenhuma, claro. Lula,
presidente eleito, viajou de graça no jato de um empresário, José Seripieri
Junior, que ganha dinheiro no ramo de corretagem de planos de saúde, setor
fortemente regulamentado. Erro mais evidente, impossível: o presidente ganhou o
favor de um empresário cujos negócios dependem do governo, para o bem ou para o
mal.
Acrescente-se que o empresário fez fortuna
durante governos petistas; financiou campanhas de Lula; emprestou ou “apenas”
hospedou o presidente, como diria Geraldo
Alckmin, em casa de veraneio em Angra; foi apanhado numa das
operações da Lava-Jato; fez delação premiada e pagou multa de R$ 200 milhões.
Não há ressalva possível. Trata-se de
equívoco ético e político. Levanta suspeitas.
O caso da PEC da Transição — que libera gastos de até R$ 200 bilhões fora do teto — guarda algumas semelhanças na narrativa.
Esse dinheiro servirá para financiar o
Bolsa Família — o pagamento de R$ 600 mensais, mais um adicional por criança —,
no que é uma política social meritória. Não é gasto, é investimento no
bem-estar dos mais pobres, diz Lula.
O.k., mas continuam sendo R$ 200 bilhões
fora do Orçamento sem fonte de financiamento. É irregular, mesmo que seja
aprovada a PEC que permite isso. É o mesmo caso da PEC Kamikaze do governo
Bolsonaro, aprovada alegremente no Congresso: uma emenda constitucional para
passar por cima da Constituição.
Tem mais. No Orçamento para 2023, está
aprovada uma verba de pouco mais de R$ 100 bilhões para um auxílio mensal de R$
400. Ora, esse recurso e mais o tanto necessário para chegar aos R$ 600 ficam
fora do teto. E assim, milagre da contabilidade criativa, aqueles R$ 100 bi que
estavam no Orçamento para pagamento do auxílio ficam liberados para o futuro
governo gastar onde bem entender.
Tudo somado e subtraído, aqueles R$ 200
bilhões formam déficit primário na veia, a ser coberto com dívida a juros
altos. Como o Orçamento dentro do teto já tem déficit, a consequência é óbvia:
irresponsabilidade fiscal.
Diz Lula: mas é responsabilidade social.
Tenta criar assim uma oposição entre políticas sociais para os pobres e
controle das contas públicas.
Já dissemos, e vai de novo: no seu primeiro
governo, Lula fez superávit no Orçamento e lançou políticas sociais. Podemos
pegar também exemplos de fora. Os países europeus são os mais adiantados na
aplicação do Estado de Bem-Estar. E são também extremamente zelosos na
estabilidade fiscal e monetária.
Qual a consequência da irresponsabilidade
fiscal?
Quando o governo é devedor contumaz, isso
enfraquece a moeda — o real se desvaloriza em relação ao dólar e outras moedas.
Quem vive em reais fica mais pobre, simples assim. Moeda fraca gera inflação —
e de novo pune os mais pobres.
Dívida pública crescente leva à alta de
juros — o investidor pede mais caro para comprar títulos do governo. Os juros
elevados pagos pelo governo se espalham por toda a economia. Claro, se eu posso
ganhar 14% ao ano emprestando para o governo, por que emprestaria por menos a
um empresário ou consumidor? Investir ou consumir fica mais caro. Trata-se de
desestímulo à atividade econômica — à geração de emprego e renda.
Finalmente, as empresas locais perdem
valor, estejam ou não listadas na Bolsa de Valores. Juros altos e incertezas
fiscais reduzem o capital disponível para investimentos. O ambiente de negócios
torna-se desfavorável, algo especialmente ruim num país em que o sistema
tributário parece ter sido montado para infernizar a vida das empresas e dos
cidadãos.
Tudo isso acontece e já aconteceu, a partir
do Lula2 e de Dilma. Como é possível que não tenham aprendido que
irresponsabilidade fiscal — com pedaladas e contabilidade criativa —levam a
recessão e inflação?
Lembra a sacada de Talleyrand, comentando
os erros repetidos dos Bourbons: não aprenderam nada e, pior, não esqueceram
nada.
4 comentários:
O suspeito, sub-reptício e escancarado 'voz dos donos' Sarda rides again...
Se não tem defesa o indigesto (a) não deveria ler artigos que contém veracidade. Que leia os 3 porquinhos ou o Pato Donald, quem sabe Cinderela e os 7 anoes ? Parece que vem ao Blog para destilar veneno e inveja. É só não ler, quem está obrigando?
Detesto brasileiros agressivos e mal educados, raça ruim.
O blog oferece espaço para comentários... Pra criticar ou aplaudir, ou pra outros fins, imagino. Estou errado ou entendo mal o objetivo do blog?
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