terça-feira, 13 de junho de 2023

Andrea Jubé - Governo acalma União e cozinha Lira

Valor Econômico

Após renovar o fôlego durante o feriado na base naval de Aratu, na Bahia, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva convocou seus conselheiros nessa segunda-feira para discutir saídas para os impasses com o União Brasil, com o grupo político do prefeito de Belford Roxo (RJ), Waguinho (Republicanos) - de quem precisará no futuro para garantir votos na Baixada Fluminense, um feudo bolsonarista -, e com o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (Progressistas-AL).

Um ministro a par das negociações disse à coluna que a iminente substituição da ministra do Turismo, Daniela Carneiro - esposa de Waguinho e deputada federal mais votada do Rio de Janeiro - pelo deputado Celso Sabino (PA) tem força para pacificar a bancada do União.

Admitiu, todavia, que a mudança não conterá a ofensiva do grupo de Arthur Lira, que mira o Ministério da Saúde para onde são direcionadas, por força de lei, 50% das emendas parlamentares.

Sabino compõe os núcleos restritos de Lira e do líder do União, Elmar Nascimento (BA). Mesmo assim, Waguinho alertou Lula, em entrevistas, que ele não deveria trocar uma liderança evangélica do terceiro maior colégio eleitoral por um deputado associado ao bolsonarismo.

O problema é que a conta do prefeito da Baixada não fecha no curto prazo. Lula precisa para ontem de votos suficientes na Câmara para os projetos de interesse do governo, especialmente após o susto com a quase derrocada da medida provisória (MP) de reestruturação dos ministérios.

A eventual nomeação de Sabino para o Turismo acalmará o União, uma das maiores bancadas da Casa, com 59 deputados. Em contraponto, Daniela Carneiro não tem meios de garantir nem sequer um voto dos colegas de partido porque pediu à Justiça Eleitoral a desfiliação do União e pretende ingressar no Republicanos, cujo diretório fluminense é controlado por Waguinho.

O União Brasil comanda, formalmente, três ministérios: o deputado licenciado Juscelino Filho (MA) está à frente das Comunicações, o ex-governador do Amapá Waldez Góes (sem partido) dirige o Desenvolvimento e Integração Regional e Daniela segue na cadeira do Turismo.

 

Porém, Juscelino e Waldez são considerados nomes da cota pessoal do presidente da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), senador Davi Alcolumbre (AP). Waldez sequer é filiado ao União e Daniela só não se desligou da legenda porque se o fizer sem autorização judicial, perde o mandato.

O União deu a dimensão de seu descontentamento na votação da MP dos ministérios. Dos 59 deputados da sigla, 35 votaram “sim” e 15 “não”. A conta do Palácio do Planalto é de que se nomear Sabino para o lugar de Daniela alcançará um nível de fidelidade no partido próximo do que mantém com outras bancadas expressivas que também controlam ministérios, como PSD e MDB.

Na mesma MP dos ministérios, dos 43 deputados do PSD, 36 votaram a favor da proposta e apenas 2 foram contrários. No MDB, dos 42 integrantes da bancada, 35 apertaram o “sim” e 3 o “não”. Até mesmo o Republicanos, que não conduz ministérios, contribuiu, proporcionalmente, com mais votos do que o União para aprovar a MP: dos 42 titulares da sigla, 31 votaram “sim”, apenas 7 foram contrários.

Numa conta de padaria, se o governo pudesse contar, ao menos nos temas econômicos, com os 141 votos do bloco formado por PSD, MDB, Republicanos, Podemos e PSC, com os cerca de 130 votos da esquerda, e pelo menos 45 dos 59 votos do União, alcançaria apoio para aprovar emendas constitucionais (PEC), que exigem 308 adesões.

A influência de Lira, entretanto, na implacável fórmula fisiológica emendas + cargos, ainda impede que a matemática do embrulho de pão se materialize em votos consolidados. Mesmo assim, auxiliares de Lula avaliam que com um apoio menos gelatinoso de PSD, MDB, Republicanos e União ficará menos sofrido subir no ringue com o presidente da Câmara.

Lula calçou as luvas disposto a lutar para não entregar o Ministério da Saúde ao grupo de Lira. É o que se evidenciou no elogio público que fez à titular da pasta, Nísia Trindade, no relançamento do programa Farmácia Popular, no dia 7, em Recife (PE). “Queria te dar os parabéns”, disse o presidente. “Nísia não é médica, é cientista política, é socióloga, e veio trabalhar na Saúde como ministra porque a experiência dela como presidenta da Fiocruz foi excepcional”, exaltou.

Para Lula, Nísia simboliza o nocaute ao ex-presidente Jair Bolsonaro num dos principais embates da disputa eleitoral: o modelo de enfrentamento da pandemia. Enquanto Bolsonaro renegou a ciência e as vacinas, Nísia, como presidente da Fiocruz, coordenou o acordo com a Universidade de Oxford e a AstraZeneca, viabilizando a produção nacional e distribuição de milhões de doses de vacina aos brasileiros.

O precedente histórico, entretanto, é de que quando a crise ficou insustentável, Lula cedeu. Em 2005, o petista resistiu até se ver obrigado a afastar o PT do Ministério da Saúde e confiar a pasta ao MDB. Na esteira do Mensalão, o então ministro Humberto Costa foi substituído pelo deputado Saraiva Felipe, liderança do MDB de Minas Gerais.

 

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