Folha de S. Paulo
Brasil afora, sempre houve e há homens e
mulheres pretos e pardos abrindo caminhos
Quando pensamos em antirracismo no Brasil é
mais fácil lembrar de nomes do século 19 (como o do abolicionista Luiz Gama) ou
de ícones do cenário internacional (como Martin Luther King) do que de nossos
"heróis" contemporâneos?
A indagação foi feita pelo cientista político Ivair Augusto Alves dos Santos ao ler minha coluna "Os 60 anos de um sonho" (27/8). Segundo ele, a reiterada citação de personagens históricos ou estrangeiros apaga a atuação de figuras contemporâneas que estão na luta antirracista.
Reconheço a tendência de relativização do
valor (ou será desvalorização?) da prata da casa. Então aproveito este espaço
para fazer deferência a dois dos "heróis negros contemporâneos e
invisibilizados" citados por Ivair.
Eduardo de Oliveira é um deles. Dedicou a
vida à causa da equidade. Em 1963, sagrou-se o primeiro vereador negro eleito
pela cidade de SP. Não é preciso esforço para imaginar a grandeza e o impacto
desse feito. Homem de opiniões fortes, foi autor do "Hino à
Negritude" e fundou o Congresso Nacional Afro-Brasileiro (CNAB). Tinha
plena cognição sobre a falácia democracia racial e suas implicações:
"Dizem que não existe raça e que o povo não tem mais referência racial,
mas até pouco tempo tinha, para ser escravo, para trabalhar muito, para ficar
na senzala, era a raça que servia." Morreu em julho de 2012.
O outro é Ari Cândido Fernandes. Seu
currículo abrange uma trajetória profissional com feitos nas áreas
cinematográfica, literária e do fotojornalismo. Entre outras coisas, esteve
exilado em Estocolmo, na Suécia, onde manteve contato com integrantes do
movimento Panteras Negras. Como correspondente da guerra da Eritreia, na
África, expôs a brutalidade de uma realidade pela qual poucos se interessam.
Morreu no mês passado, no ostracismo.
Brasil afora, sempre houve —e felizmente há
cada vez mais— homens e mulheres pretos e pardos abrindo caminhos, lutando por
justiça social e servindo de inspiração.
Um comentário:
Verdade.
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