quarta-feira, 20 de dezembro de 2023

Bernardo Mello Franco - O socialista sensacionalista

O Globo

Filiação de apresentador para ser vice de Tabata é novo retrato da barafunda partidária

José Luiz Datena começou o ano no PSC, celebrou a Páscoa no PDT e vai passar o Natal no PSB. O apresentador nunca disputou uma eleição, mas já está no décimo partido. A cada troca de sigla, é bajulado por novos políticos de olho em sua popularidade na TV.

Nos últimos anos, o comunicador ensaiou se candidatar a presidente, vice-presidente, senador e prefeito de São Paulo. Agora promete concorrer a vice-prefeito na chapa da deputada Tabata Amaral.

No ato de filiação, ele falou muito de si mesmo e pouco dos problemas paulistanos. “Eu não desisti da política. A política é que desistiu de mim”, gracejou, antes que alguém questionasse seu vaivém partidário.

Datena esteve no PT de Lula, no PP de Maluf e no PSL de Bolsonaro. Ao assinar a ficha do PSB, mostrou pouca afinidade com o ideário socialista. “Não há que ter luta de classes”, arriscou. Faltou ler o estatuto do partido, que menciona duas vezes o conceito marxista.

Diante dos novos correligionários, o apresentador forneceu uma amostra grátis de seu telepopulismo. “O dono do Brasil é o povo brasileiro”, proclamou. “Somos um país que deu certo por causa da miscigenação de raças”, prosseguiu. “Não precisa acreditar em Deus para ser honesto”, emendou.

Ele também pontificou contra o extremismo e a “imbecilidade da radicalização”. Nem parecia o personagem dócil que ia tomar cafezinho no Alvorada enquanto Bolsonaro atacava o Judiciário e ameaçava desrespeitar o resultado da eleição.

Datena é um expoente do sensacionalismo na TV. Vive de narrar incêndios, enchentes, chacinas e perseguições policiais. Seu ofício é transformar as tragédias de cada dia em pontos na guerra da audiência.

Quando a cidade vai bem, o programa vai mal. Se não fosse uma farsa, sua aposta na política seria uma contradição. Cumprindo o que promete no palanque, ele ficaria sem assunto para faturar na telinha.

A festa do PSB para receber Datena é mais um retrato da nossa barafunda partidária. No Brasil, a extrema direita manda no Partido Liberal e o fisiologismo domina o Partido Progressista. Ninguém deveria se espantar com um sensacionalista no Partido Socialista.

 

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