Valor Econômico
É razoável esperar que a complexidade das estruturas de poder nos EUA temperará os arroubos populistas e isolacionistas do presidente eleito, mas apertem os cintos
Em novembro de 2016, a surpreendente eleição
de Donald Trump apenas cinco meses depois do apertado referendo que tirou o
Reino Unido da Comunidade Europeia, tornou inevitável a comparação entre os
eventos.
As semelhanças eram evidentes. Trump em 2016 era um “outsider” nos quadros tradicionais do Partido Republicano, do mesmo modo que o movimento pró-Brexit não contava com o apoio das lideranças do Partido Conservador. Ambas as campanhas foram centradas no uso intensivo das redes sociais, repetindo velhos argumentos da extrema-direita como a apologia do Estado mínimo, isolacionismo nacionalista e, especialmente, um visceral ataque contra a imigração - que, no caso inglês, cresceu com a entrada da Europa do Leste na União Europeia em meio ao aumento de desemprego causado pela Grande Recessão. Os resultados das urnas por grupo de eleitores eram também incrivelmente semelhantes, exceto por diferenças nos grupos de gênero, onde Hillary Clinton, a oponente de Trump, teve significativa maioria entre mulheres.
Os efeitos econômicos do Brexit, formalizado
apenas no início de 2020, foram muito negativos. A economia inglesa é hoje a
única do G7 que ainda é menor do que antes da pandemia, e tem a maior taxa de
inflação do grupo, o que ajudou a volta recente de um governo trabalhista em
uma derrota histórica dos conservadores.
Entretanto, ao contrário do Brexit, que
entrou em efeito automaticamente, parte das promessas de companha no primeiro
governo de Trump não se concretizou, em grande parte por resistências de um
Congresso dividido e, finalmente, pela pandemia. Elementos centrais da agenda
de Trump - redução drástica da imigração, protecionismo comercial e corte
radicais de impostos sobre a renda dos mais ricos - não foram implementados na
extensão de como agora se anuncia.
O segundo termo será diferente. Agora Trump é
líder inconteste do Partido Republicano. A maioria dos eleitores comprou sua
realidade alternativa, ignorando sua personalidade retratada objetivamente em
crimes de vários tipos, falências seriais, agressões verbais gratuitas e
indisfarçáveis misoginia e egocentrismo. Ainda mais importante, Trump dobrou a
aposta e ganhou o controle do Congresso apesar de uma retórica ainda mais
agressiva do que em eleições anteriores tanto em relação à imigração quanto ao
protecionismo. Agora terá mão livre para implementar as promessas de campanha.
Vejamos as consequências pois, embora a história nunca se repita, muitas vezes
rima.
No plano internacional, uma guinada
protecionista dos Estados Unidos, com um aumento generalizado de tarifas,
certamente agradaria certos grupos de grandes apoiadores. Mas desorganizaria as
cadeias de valor internacional com impacto importante nos fluxos de comércio
internacional. O neomercantilismo populista de Trump representaria importante
retrocesso da progressiva liberalização comercial ocorrida desde a Segunda
Guerra Mundial, liderada pelos Estados Unidos, desfechando um duro golpe no
dinamismo do ciclo de globalização e prosperidade sem precedente da economia
mundial nas últimas décadas, um dos pilares da longa Pax Americana.
Um retorno ao protecionismo americano do
entreguerras marcaria o fim desta era. Significará virar as costas dos EUA para
o mundo, como o Brexit significou para os ingleses virar as costas para a UE.
Algo impensável até Trump puxar este coelho eleitoral da cartola, especialmente
porque um choque tarifário efetivo terá ainda óbvio impacto inflacionário sobre
a economia americana a curto prazo, a última coisa que os republicanos
gostariam de ver.
A diferença entre a estagflação inglesa
pós-Brexit e o cenário provável nos Estados Unidos é que, dado o tamanho da
economia americana, os erros da política econômica terão impacto muito maior
sobre os fluxos de comércio e investimento mundiais
No plano interno, embora a agenda fiscal
possa ter apoio do Congresso, não será de fácil implementação, pois o espaço
para um corte significativo de impostos, como anunciado, é muito mais estreito
hoje do que em 2016, pela acentuada deterioração fiscal. O déficit federal
anual triplicou desde 2016 pelo efeito dos cortes de impostos de Trump e os
gastos dos programas de investimento de Biden, e é projetado oficialmente em
US$ 1,8 trilhões em 2024. Somado ao impacto dos US$ 6 trilhões de déficits
acumulados durante a pandemia em 2020-21, o descontrole fiscal fez a proporção
da dívida pública em relação ao PIB explodir de pouco mais de 100% para cerca
de 120% desde a primeira posse de Trump, apesar do forte crescimento da
economia.
Ou seja, um corte de impostos dos níveis
sugeridos por Trumo teria importante impacto macroeconômico. Se anunciado no
próximo ano em uma economia ainda aquecida e possivelmente ainda digerindo os
efeitos inflacionários de aumento generalizado de tarifas, será muito difícil
que a política monetária ancore expectativas de queda da inflação sem reverter
a queda de juros que sustenta as expectativas positivas de crescimento da
economia. Portanto, se ao longo do primeiro ano for votada a prometida redução
de impostos e aumento de barreiras comerciais, o novo governo inevitavelmente
enfrentará o velho dilema - que de certa forma havia retornado com a política
fiscal expansionista dos democratas - entre crescimento e inflação.
A preocupação no setor financeiro com um
cenário como esse já é evidente. Em entrevistas recentes, o mais forte
candidato ao cargo de secretário do Tesouro segundo a imprensa especializada
americana, Scott Bessent, um gestor de fundos e grande doador da campanha de
Trump, tem minimizado o impacto inflacionário do aumento de tarifas
argumentando que seria feito “de forma progressiva” e que o impacto fiscal
seria reduzido pelo desmonte dos grandes programas de investimento verde e
modernização de infraestrutura do governo Biden (Squawk Pod: Scott Bessent
& Trump’s economy 2.0, em www.youtube.com/watch?v=i_79FIPc-CE).
Aqui, será ver para crer.
Neste contexto de incertezas, se a posição
fiscal se deteriorar e voltarem as pressões inflacionárias, a posição do
Federal Reserve (Fed) será crucial. Se a visão tradicional vencer, dificilmente
os juros continuarão a recém-anunciada trajetória de queda e o crescimento
deverá perder a atual exuberância. A importância do Fed explica os comentários
públicos vindos do campo do presidente de que os dias de Jerome Powell, o atual
presidente do Fed, estão contados.
Em resumo, a implementação das políticas anunciadas na campanha pelo presidente-eleito resultaria, como no Brexit, em menos crescimento e mais inflação. A diferença entre a estagflação inglesa pós-Brexit e o cenário provável nos Estados Unidos é que, dado o tamanho da economia americana, os erros da política econômica terão impacto muito maior sobre os fluxos de comércio e investimento mundiais. Por isso, é razoável esperar que a complexidade das estruturas de poder nos Estados Unidos em torno do presidente temperará os arroubos populistas e isolacionistas do candidato. Mas apertem os cintos.
2 comentários:
A opção do Brasil ser a aos bloco dos países ditatoriais e autoritários China Rússia Irã vai custar muito caro para nós brasileiros e nem se fala para Lula e sua turma do STF
Todos estão na mira Por estarem praticando censura e perseguição políticas aos oponentes Com mortes e presos políticos sem julgamento Com acusações fajutas de golpes de estado
Pode esperar que a turma vai sofrer consequências graves essa atitude de quebrar a nossa democracia e implantar uma ditadura do consórcio PT STF
E o todo-poderoso Alexandre de Moraes hein
Foi denunciado por males republicanos americanos organização internacional de direitos humanos como ditador violador da Constituição brasileira , implantar a censura nas mídias e na internet e perseguição da oposição
Ele caiu em desgraça, aos poucos todo mundo vai sair de perto dele pra também não ser Apontado como cúmplice da ditadura do Xandão
Esse é o fim de todo ditador; a desmoralização e a solidão
Bem feito achou que era Deus!
O diabo vai leva lo pro quinto dos inferno
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