Dora Kramer
DEU EM O ESTADO DE S. PAULO
Pode ser só impressão, mas o presidente Luiz Inácio da Silva parece um tanto silencioso demais em relação à retomada da ofensiva em prol do terceiro mandato.
Já faz duas semanas - 14 dias exatos - que o senador Fernando Collor deu uma entrevista ao jornal Valor Econômico abrindo nova temporada de manifestações em favor da realização de um plebiscito ou de uma emenda constitucional a ser submetida ao referendo popular, e Lula até agora, nada. Quieto, não deu uma palavra a respeito.
Sua assessoria, sempre célere na distribuição de versões sobre a "irritação" do presidente com isso e aquilo, tampouco se movimentou. Os tradicionais arautos da tese, o deputado petista Devanir Ribeiro à frente da caravana, igualmente se abstiveram de pronunciar suspiro.
Outros personagens assumiram a tarefa. A Collor seguiu-se o deputado cassado Roberto Jefferson, ambos do PTB. Ao PMDB coube dar objetividade ao debate, por intermédio do deputado Jackson Barreto - ex-prefeito de Aracaju, como o atual governador de Sergipe, Marcelo Déda, do PT -, que anuncia para o fim do mês a apresentação de uma emenda constitucional propondo a possibilidade de mais de uma reeleição para presidentes, governadores e prefeitos.
Barreto recolheu, também em silêncio absoluto, as 171 assinaturas de deputados, necessárias à formalização da proposta. Por ela, se o Congresso aprovar a emenda, em setembro a novidade seria submetida a referendo da população. Um ano antes da eleição, a tempo de valer para o que interessa: a presidencial de 2010.
O presidente da República já afirmou reiteradas vezes (em público, diga-se) que não tem o menor cabimento alterar a Constituição para lhe dar a chance de concorrer a um terceiro mandato consecutivo. "Seria brincar com a democracia", disse numa dessas ocasiões.
Chegou, consta, a admoestar o deputado Devanir Ribeiro, seu amigo dos velhos tempos de ABC, quando ele começou a defender aberta e claramente a alteração das regras. Logo após a reeleição disse que seu plano era assar "uns coelhinhos" depois de deixar a Presidência.
Mas, a despeito de toda essa firmeza, sua base aliada não lhe segue as orientações. Ou não as leva a sério. Lula, como se sabe, é daqueles chefes que, nas internas, comanda na base no grito. Mete medo, não deixa espaço para contestações, não admite que o desautorizem.
Consegue tudo, até impor um projeto de candidatura presidencial de baixo para cima, goelas adentro. Só não consegue que os companheiros o obedeçam e parem de criar constrangimentos institucionais, dando a entender que ele poderia compactuar com essa história de terceiro (e por que não um quarto ou quinto?) mandato.
Mal comparando, algo semelhante ocorre com presidentes da Câmara e do Senado. Poderosos, podem fazer a chuva cair e o sol aparecer dentro do Congresso, mas não podem assegurar a lisura da conduta de suas excelências.
No caso do Parlamento, a explicação tornou-se clara ultimamente: o comando não impõe o controle porque compactua com o descontrole.
Em relação ao silêncio do presidente há outras possibilidades: ele pode estar farto de repetir a negativa, pode considerar perda de tempo falar sobre um assunto com prazo de validade vencido, pode preferir ignorar por achar a hipótese inexequível, mas pode também dar margem a que se interprete seu mutismo como sinal de consentimento.
Donde, a conveniência de tal silêncio não se prolongar para que não recenda a licenciosidade.
Mineiramente
O governador de Minas, Aécio Neves, acaba ficando rouco de tanto desmentir o indesmentível: que as cúpulas do PSDB e do DEM há mais de um ano trabalham com a ideia da chapa presidencial puro-sangue com ele como vice de José Serra.
Mas desta vez o governador limitou-se a negar a oficialização do projeto, não a existência dele.
Embora verossímil a negativa de que martelo tenha sido batido, o episódio faz lembrar velha piada mineira pelo próprio Aécio citada para negar sua saída do PSDB.
Dois políticos mineiros se encontram e um pergunta para onde o outro está indo. "Vou para Barbacena."
O primeiro pensa: "Ele diz que vai para Barbacena para eu pensar que ele vai para Lavras, mas ele vai é para Barbacena mesmo."
Sobre uma possível mudança de partido, Aécio interpretou assim a analogia: "Se estou dizendo que vou para Barbacena, não é para despistar, vou mesmo." Ou seja, ficar no PSDB.
No caso da composição da chapa puro-sangue, a questão ficará em aberto até o fim de 2009, quando então se saberá se Aécio Neves vai mesmo para Barbacena ou se desta vez despista e Lavras é, de fato, o seu destino.
Um adendo, apenas. O governador alega que mais produtivo seria o PSDB se aliar a um outro partido. Mas, uma vez que o DEM apoia o plano "puro-sangue" e o PMDB prefere o conforto da dubiedade, não sobram parceiros politicamente significativos.
DEU EM O ESTADO DE S. PAULO
Pode ser só impressão, mas o presidente Luiz Inácio da Silva parece um tanto silencioso demais em relação à retomada da ofensiva em prol do terceiro mandato.
Já faz duas semanas - 14 dias exatos - que o senador Fernando Collor deu uma entrevista ao jornal Valor Econômico abrindo nova temporada de manifestações em favor da realização de um plebiscito ou de uma emenda constitucional a ser submetida ao referendo popular, e Lula até agora, nada. Quieto, não deu uma palavra a respeito.
Sua assessoria, sempre célere na distribuição de versões sobre a "irritação" do presidente com isso e aquilo, tampouco se movimentou. Os tradicionais arautos da tese, o deputado petista Devanir Ribeiro à frente da caravana, igualmente se abstiveram de pronunciar suspiro.
Outros personagens assumiram a tarefa. A Collor seguiu-se o deputado cassado Roberto Jefferson, ambos do PTB. Ao PMDB coube dar objetividade ao debate, por intermédio do deputado Jackson Barreto - ex-prefeito de Aracaju, como o atual governador de Sergipe, Marcelo Déda, do PT -, que anuncia para o fim do mês a apresentação de uma emenda constitucional propondo a possibilidade de mais de uma reeleição para presidentes, governadores e prefeitos.
Barreto recolheu, também em silêncio absoluto, as 171 assinaturas de deputados, necessárias à formalização da proposta. Por ela, se o Congresso aprovar a emenda, em setembro a novidade seria submetida a referendo da população. Um ano antes da eleição, a tempo de valer para o que interessa: a presidencial de 2010.
O presidente da República já afirmou reiteradas vezes (em público, diga-se) que não tem o menor cabimento alterar a Constituição para lhe dar a chance de concorrer a um terceiro mandato consecutivo. "Seria brincar com a democracia", disse numa dessas ocasiões.
Chegou, consta, a admoestar o deputado Devanir Ribeiro, seu amigo dos velhos tempos de ABC, quando ele começou a defender aberta e claramente a alteração das regras. Logo após a reeleição disse que seu plano era assar "uns coelhinhos" depois de deixar a Presidência.
Mas, a despeito de toda essa firmeza, sua base aliada não lhe segue as orientações. Ou não as leva a sério. Lula, como se sabe, é daqueles chefes que, nas internas, comanda na base no grito. Mete medo, não deixa espaço para contestações, não admite que o desautorizem.
Consegue tudo, até impor um projeto de candidatura presidencial de baixo para cima, goelas adentro. Só não consegue que os companheiros o obedeçam e parem de criar constrangimentos institucionais, dando a entender que ele poderia compactuar com essa história de terceiro (e por que não um quarto ou quinto?) mandato.
Mal comparando, algo semelhante ocorre com presidentes da Câmara e do Senado. Poderosos, podem fazer a chuva cair e o sol aparecer dentro do Congresso, mas não podem assegurar a lisura da conduta de suas excelências.
No caso do Parlamento, a explicação tornou-se clara ultimamente: o comando não impõe o controle porque compactua com o descontrole.
Em relação ao silêncio do presidente há outras possibilidades: ele pode estar farto de repetir a negativa, pode considerar perda de tempo falar sobre um assunto com prazo de validade vencido, pode preferir ignorar por achar a hipótese inexequível, mas pode também dar margem a que se interprete seu mutismo como sinal de consentimento.
Donde, a conveniência de tal silêncio não se prolongar para que não recenda a licenciosidade.
Mineiramente
O governador de Minas, Aécio Neves, acaba ficando rouco de tanto desmentir o indesmentível: que as cúpulas do PSDB e do DEM há mais de um ano trabalham com a ideia da chapa presidencial puro-sangue com ele como vice de José Serra.
Mas desta vez o governador limitou-se a negar a oficialização do projeto, não a existência dele.
Embora verossímil a negativa de que martelo tenha sido batido, o episódio faz lembrar velha piada mineira pelo próprio Aécio citada para negar sua saída do PSDB.
Dois políticos mineiros se encontram e um pergunta para onde o outro está indo. "Vou para Barbacena."
O primeiro pensa: "Ele diz que vai para Barbacena para eu pensar que ele vai para Lavras, mas ele vai é para Barbacena mesmo."
Sobre uma possível mudança de partido, Aécio interpretou assim a analogia: "Se estou dizendo que vou para Barbacena, não é para despistar, vou mesmo." Ou seja, ficar no PSDB.
No caso da composição da chapa puro-sangue, a questão ficará em aberto até o fim de 2009, quando então se saberá se Aécio Neves vai mesmo para Barbacena ou se desta vez despista e Lavras é, de fato, o seu destino.
Um adendo, apenas. O governador alega que mais produtivo seria o PSDB se aliar a um outro partido. Mas, uma vez que o DEM apoia o plano "puro-sangue" e o PMDB prefere o conforto da dubiedade, não sobram parceiros politicamente significativos.
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