quarta-feira, 20 de maio de 2009

Humor e união em filme do Ken Loach de ''esquerda''

Luiz Carlos Merten, Cannes
DEU EM O ESTADO DE S. PAULO / CADERNO 2

O diretor britânico Ken Loach está de volta a Cannes, e com uma comédia que está sendo considerada a delícia do festival. Looking for Eric foi uma proposta do próprio ex-jogador francês Eric Cantona, astro do time inglês Manchester United, que queria explorar no cinema a relação de idolatria que os fãs têm com ele. Loach e seu roteirista Paul Laverty criaram uma história com alguns pontos de contato com a de Sonhos de Um Sedutor, de Herbert Ross, em que Woody Allen era assombrado por seu ídolo, Humphrey Bogart.

Seu novo filme é uma decorrência do episódio de A Cada Um Seu Cinema, que já era declaração de amor ao futebol?

Não necessariamente, mas quem pensava que aquilo era uma piada com certeza se enganou. O futebol é muito importante, socialmente, sociologicamente. Tem gente que vive a semana inteira na expectativa de ver seu time jogar. Quando Eric nos propôs o filme, Paul e eu condicionamos o sim a encontrar uma história que nos agradasse. É a história de dois Erics, o grande Eric, o jogador, e o pequeno, um carteiro fracassado. E a ideia era justamente fazer com que os dois interagissem. No futebol, você pode discutir o caráter empresarial, a cartolagem, mas o esporte em si oferece momentos de brilho individual de grandes jogadores, celebra o esforço coletivo, o time. Nosso filme se baseia nesse conceito.

O velho Ken Loach de esquerda foi quem criou a ideia de o passe de Eric Cantona para um colega fazer o gol ser mais importante do que os gols que ele próprio faz?

Paul Laverty passou dias conversando com Eric para formatar uma história e ele próprio considerou aquele passe um de seus momentos gloriosos. Mas não conseguimos a imagem do passe que ele deu para Ryan Giggs e usamos outro passe, para Irwin. A ideia, de qualquer maneira, me interessa, claro. A solidariedade, o grupo. Estou feliz com meus dois Erics e com a acolhida do público e da crítica em Cannes. Já havia humor em outros filmes meus, mas esse é especial. É bom buscar outras vias para passar a mesma ideia de união para resolver os problemas.

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