Para BC, PIB caiu em janeiro. Com indústria fraca, analistas veem até estagnação no trimestre
Gabriela Valente
A crise na indústria - que teve em janeiro seu pior desempenho em três anos, com queda de 2,1% na produção - fez com que a economia encolhesse no começo de 2012. Segundo o Índice de Atividade Econômica do Banco Central - Brasil (IBC-Br), a retração foi 0,13% no primeiro mês do ano, ante dezembro. O índice reflete a evolução da atividade econômica do país e é visto como uma prévia do Produto Interno Bruto (PIB, conjunto de bens e riquezas produzidas no país). Um desempenho que já faz com que especialistas apostem num PIB fraco ou mesmo numa estagnação no primeiro trimestre.
- A atividade está mais fraca do que analistas esperavam no primeiro trimestre. Nossas projeções para o PIB do primeiro trimestre era de uma alta de 1%. Baixamos para 0,6%, mas não descartamos zero - disse Fábio Romão, economista da LCA Consultores.
O IBC-Br ficou acima da expectativa dos economistas. O que evitou uma retração maior foi o comércio. Ao contrário do setor industrial, o varejo teve o melhor resultado da história no início deste ano, com alta de 2,6%.
- Não dá para comemorar, mas foi muito melhor do que o esperado. Só que um dado de crescimento próximo a zero não dá mesmo para comemorar - disse o ex-secretário do Tesouro Nacional Carlos Kawall, que mantém a previsão de crescimento para o Brasil em 0,5% no primeiro trimestre do ano.
Para economista do RBS Zeina Latif, o governo tem ido pelo caminho errado, ao estimular demasiadamente o consumo. Para ela, isso pode ter um efeito perverso sobre a economia, pois o mercado de trabalho deve ficar mais aquecido com uma demanda muito forte, aumentando a pressão por salários melhores. Isso, por sua vez, elevará os custos das empresas, principalmente da indústria, em crise. O setor levou essa preocupação à presidente Dilma Rousseff, na semana passada.
O índice do BC se mostrou muito próximo do resultado do PIB em 2011. A prévia do BC indicou crescimento de 2,79%. E o IBGE confirmou que o Brasil cresceu 2,7% em 2011. Nos últimos 12 meses, o indicador do BC registrou 2,44%. O governo já admite internamente que não conseguirá fazer o país crescer os 4% desejados por Dilma.
Já no relatório Focus, a pesquisa semanal do BC com economistas, feita antes da divulgação do IBC-BR, os analistas também revisaram para baixo a estimativa para o crescimento do ano, de 3,3% para 3,23%. Por outro lado, o levantamento mostra que mesmo com uma baixa na previsão de expansão da indústria no ano que vem, a perspectiva para o crescimento em 2013 melhorou: passou de 4,2% para 4,29%.
- Com dois meses seguidos de crescimento zero e, se de novo tivermos algo próximo de zero em março, o crescimento do trimestre ficará em 0,6% ante o quarto trimestre. A principio, um crescimento em torno de 0,5% no primeiro trimestre parece mais provável, pouco abaixo dos 0,8% que esperávamos. Certamente será um resultado que não será muito diferente do resultado fraco do final de 2012 e que coloca dúvidas num crescimento muito acima de 3% este ano - disse Sergio Vale, economista-chefe da MB Associados.
Os dados mais recentes indicam que uma recuperação parece adiada. Indicadores antecedentes - dados setoriais que servem de termômetro da economia - mostram desaceleração e queda. Caso da produção industrial que, em janeiro, caiu 2,1%, em relação a dezembro, após duas taxas positivas. Freio que aparece na produção de veículos que, no primeiro bimestre, recuou 19,5% em relação ao mesmo período de 2011, apontou a Associação Nacional de Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea).
- A economia está mais fraca do que se esperava. E quem puxa a atividade é o consumo, em direção oposta à indústria. A recuperação fica para o segundo semestre - disse Carlos Thadeu de Freitas, ex-diretor do BC.
Segundo a Associação Brasileira de Concessionárias de Rodovias (ABCR), o fluxo de veículos pesados recuou 0,8% - espelho da indústria. E a produção de embalagens pode recuar 0,3% no primeiro trimestre de 2012, ante igual período de 2011, prevê a Associação Brasileira de Embalagens (Abre).
- Novamente a indústria surge como vilã do primeiro trimestre e joga a recuperação maior para o segundo trimestre. Diria que ai sim é provável a taxa de crescimento na margem chegar a números acima de 1%. Isso ajuda a manter a inflação em desaceleração, mas coloca o BC com mais possibilidade de estimular a economia. Não estranharia se o BC voltasse a discutir uma queda marginal da Selic após chegar a 9% - comentou Vale.
Para André Perfeito, da Gradual Investimentos, o resultado do IBC-BR é compatível com projeções de um PIB bastante fraco em 2012 (perto de 2,3%).
- Uma recuperação mais forte fica mesmo para o segundo semestre.
FONTE: O GLOBO
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