Governador reclama de pressão do Planalto sobre seus colegas de partido, mas nega desistência
Líder do PSB na Câmara afirma que críticas de governadores a Campos mostram influência do governo federal e do PT
Nelson Barros Neto, Estelita Hass Carazzai
SÃO PAULO - Em conversa com deputados estaduais, o governador Eduardo Campos (PSB-PE) disse que está havendo um "esforço incomum" do PT e do governo federal para evitar sua candidatura à Presidência no ano que vem.
"Eu sei que eles vão me jogar na cerca, mas eu vou arrebentá-la", disse a interlocutores ouvidos pela Folha.
Ontem, no Recife, Campos foi a estrela de um evento que reuniu integrantes de Assembleias de todo o país. Nele, voltou a falar como candidato e repetiu o bordão de que "o Brasil pode mais".
O desabafo contra o PT e o governo federal se deu em conversas reservadas. Ao longo do dia, deputados participaram de audiências com o governador e fizeram fila para cumprimentá-lo.
Nos últimos dias, num sinal interpretado por aliados como uma tentativa de estrangular a sua candidatura, governadores do PSB manifestaram apoio à reeleição de Dilma. Foi o caso de Camilo Capiberibe (AP), Renato Casagrande (ES) e, como já fizera antes, Cid Gomes (CE).
Para o deputado federal Beto Albuquerque (PSB-RS), líder do PSB na Câmara e um dos principais defensores da candidatura de Eduardo Campos, as resistências no próprio partido "têm o dedo do governo e de gente do PT".
"Infelizmente, é uma pressão velada que tem interferido na reflexão de muitos quadros nossos. Pressão sobre projetos, financiamentos, uma série de coisas", disse o deputado anteontem.
Para o Palácio do Planalto, a candidatura de Campos representa um desconforto ao projeto de reeleição de Dilma, já que o pernambucano poderia abocanhar votos no Nordeste e aumentaria a probabilidade de segundo turno.
Ontem, Campos fez uma palestra de mais de duas horas para deputados estaduais na qual foi interrompido por aplausos ao menos dez vezes.
O tema era "equilíbrio federativo e desenvolvimento sustentável". No entanto, o governador passou boa parte do discurso listando as realizações de sua gestão, apresentada como réplica do que pode ser feito pelo país.
Pela manhã, Campos teve reuniões com deputados estaduais. Falou em "fazer uma reflexão sobre o momento da vida brasileira", "enfrentar os gargalos de infraestrutura" e aumentar as receitas para Estados e municípios, citando o que fez no governo.
"Foi extraordinário. Ele falou aquilo que nós, parlamentares, prefeitos e vereadores, queremos discutir", disse o deputado estadual Joares Ponticelli (PP-SC).
Campos também repetiu que é preciso reconhecer avanços dos governos Dilma, Lula e Fernando Henrique Cardoso, a quem atribuiu os méritos no controle da inflação na década de 1990.
Fonte: Folha de S. Paulo
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