• Em palestra para o Lide, o ex-presidente criticou a política externa da gestão petista, dizendo que "nos dias atuais, o coração dos que estão no governo bate no mesmo ritmo de países como Bolívia e Argentina"
Elizabeth Lopes, Fernando Ladeira e Pedro Venceslau – O Estado de S. Paulo
O ex-presidente tucano Fernando Henrique Cardoso disse, nesta segunda-feira, 22, ser um homem que acredita no Brasil. Apesar disso, destacou que é preciso ter indignação quando o Brasil perde o rumo. "E o Brasil está começando a perder o rumo", frisou, em almoço-palestra para mais de 600 empresários, promovido pelo Grupo de Líderes Empresariais (Lide).
Na palestra, o ex-presidente da República lembrou que, ao assumir o País, depois de alguns escândalos que o Congresso Nacional enfrentou, como o dos "anões do orçamento", levou um grupo competente de pessoas para fazer a nação funcionar. "Em 93, 94, juntamos um grupo de pessoas e batalhamos contra quase todo mundo porque não se acreditava que fosse possível colocar em ordem as finanças do País." E disse que sua gestão decidiu remar contra a maré e combater a alta inflacionária.
Em sua palestra, o ex-presidente tucano criticou a política externa praticada na gestão petista, dizendo que "nos dias atuais, o coração dos que estão no governo bate no mesmo ritmo de países como Bolívia e Argentina". E disse que a política externa petista fez o Brasil perder o rumo no mundo. "O Brasil se isolou no mundo", afirmou. Contudo, disse que o governo do PT agiu certo na crise econômica. "Mas fomos perdendo o modelo, passamos a ser um País com vocação para terceiro-mundismo. Perder o rumo é grave porque vai condicionar os passos futuros do País."
As críticas mais duras do ex-presidente foram dirigidas aos escândalos que assolam a Petrobras. Fernando Henrique disse que existem pessoas boas a más em todos os partidos, o problema é a visão, é subordinar a produção, a política e a vida cotidiana do País a isso, pois hoje tudo se subordina ao partido. "E não estamos falando apenas em crescer o PIB, mas é crescer de maneira decente." E continuou: "E por falar em matéria de decência, nem se fala. O que estamos assistindo é vergonhoso, os donos do poder são responsáveis quando a corrupção é sistêmica e no Brasil ela é sistêmica, não é possível o que está ocorrendo na Petrobras."
Ao falar do escândalo que envolve a estatal brasileira, o ex-presidente tucano disse que é impossível que os que estão no comando (do País) nunca tenham visto isso. "Ou é incompetente ou conivente", disse, mas eximiu a presidente Dilma Rousseff (PT) de alguma participação neste imbróglio. "Não acredito que ela esteja envolvida", emendou, mas disse que é preciso cobrar que tudo seja investigado e os responsáveis punidos. Nas críticas, FHC disse que está ocorrendo um verdadeiro assalto aos cofres públicos do País.
Eleições
Para reforçar que o cenário eleitoral pode mudar a qualquer momento, numa referência indireta ao seu correligionário Aécio Neves (PSDB), que perdeu o segundo lugar nas pesquisas de intenção de voto com a entrada da ex-senadora Marina Silva como cabeça de chapa do PSB, após a morte de Eduardo Campos, Fernando Henrique disse que nas eleições em que assumiu o País, em determinado momento da disputa, não acreditava que iria conseguir vencer o petista Luiz Inácio Lula da Silva. "Mas tive garra", disse.
Disse que eleição se ganha no dia. "Perdi a eleição para o Jânio Quadros (ex-prefeito de São Paulo) no dia", e brincou que perder aquela eleição foi bom porque depois virou presidente da República. Aos empresários, FHC disse que é preciso pensar bem na hora do voto, porque é o futuro do País que está em jogo. "Queremos um Brasil da confiança e da dignidade." Reiterou que continua acreditando muito no Brasil, porém, é preciso fazer as mudanças necessárias.
FHC ressaltou que apoia Aécio Neves porque ele pode unir toda essa nova energia, com confiança, e fazer as coisas que o País precisa. Falou que o correligionário tucano tem as melhores propostas.
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