• Caso altas de juros e dólar não sejam um exagero, arrocho 'de mercado' pode causar revolta
A jornada nas estrelas do dólar e das taxas de juros no mercado pode bem ser um exagero. Isto é, o custo do dinheiro continuaria a aumentar, mas não no ritmo extravagante que se vê desde o final de julho, acelerado no final de agosto.
O que acontece, porém, se não se tratar de extravagância? Se derrotas e tolices do governo degradarem ainda mais as condições financeiras? Trata-se então do prenúncio de colapso econômico também em 2016, embora a asfixia comece a ser sentida desde logo, ainda em 2015. Tomar empréstimos se torna atitude desesperada –quando há crédito.
Até o ponto baixo em que chegamos, o aumento da inflação esperada para 2016 e o adiamento para as calendas da queda da taxa de juros (Selic) já provocaram depressão de ânimos. Boas e ponderadas casas do ramo estimam que a economia encolha em torno de 3% neste ano e 1% em 2016. Uma degradação financeira extra tende, claro, a piorar as expectativas: uma recessão tal qual a de Collor.
Repita-se, porém, que não seria apenas a antevisão de desastre maior que agitaria os donos do dinheiro e das empresas. O aperto do arrocho seria sentido em parte aqui e agora. Empresas não estão pagando impostos, por falta de lucro ou caixa, vê-se no colapso contínuo da arrecadação do governo. Sem crédito, há risco de ciranda acelerada e ampla de calote entre empresas. Em que ponto essa espiral vai causar gritaria geral e politicamente decisiva?
Daqui até novembro, o calendário está recheado de datas bombásticas, de motivos para novas corridas de juros e dólar. Note-se que as ondas recentes de altas de juros deveram-se às grandes rendições do governo ao buraco de suas contas.
Foi no final de julho que o governo anunciou, na prática, que não faria superavit primário em 2015. Foi no final de agosto que o governo mandou para o Congresso um Orçamento deficitário.
Nesta semana, o Congresso examina os vetos de Dilma Rousseff a gastos lunáticos aprovados pelos parlamentares: reajuste do Judiciário e gastos extras na Previdência. Caso os vetos sejam derrubados, haverá desautorização terminal da presidente e na prática um novo rebaixamento do crédito do governo, na praça do mercado.
Nesta semana ainda, o governo deve apresentar sua revisão do Orçamento. Dada a frustração crescente da receita de impostos, como se viu em agosto, pode ser que o governo anuncie oficialmente deficit primário para 2015, o que implica piora na perspectiva já ruim para 2016, sobreviva ou não o pacote fiscal anunciado na segunda-feira.
Como se não bastasse, o cronograma do impeachment corre, não obstante dúvidas e empecilhos, jurídicos e políticos. Em outubro, as contas de 2014 do governo Dilma devem ser condenadas. No calendário do PMDB, se prevê votar "para valer" o impeachment em novembro. Em meados de novembro, a maioria do PMDB prevê que o partido abandone Dilma –já se pensa até na composição do novo governo.
"Política é como nuvem etc.", tudo pode mudar, mas o mero calendário desses eventos tende a empestear ainda mais o ar já vicioso da praça do mercado. E nem se falou dos prejuízos adicionais que o tumulto financeiro mundial pode causar por aqui. Nem do que o povo, bestificado, vai achar disso tudo.
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