- O Estado de S.Paulo
Como já esperado neste ano, a insatisfação política com a área econômica é grande
Não será nenhuma surpresa uma movimentação de lideranças da base do Congresso para impor nova e importante derrota à equipe econômica. Crescem as críticas à falta de diálogo com os líderes dos partidos aliados ao presidente Michel Temer.
Os parlamentares reclamam que o novo ministro da Fazenda, Eduardo Guardia, ainda não chamou nem mesmo para uma conversa as lideranças da Câmara. Uma praxe entre os muitos salamaleques da burocracia parlamentar de Brasília.
Foi a deixa para a insatisfação chegar ao ministro da Secretaria de Governo, Carlos Marun. Os parlamentares ensaiam uma derrota ainda maior do que a derrubada dos vetos presidenciais das dívidas rurais, no final de março, que vão custar R$ 13 bilhões só em 2018 e que ainda não é assunto resolvido, já que o governo não tem Orçamento para bancar essas perdas.
Recado político já foi dado na votação essa semana do projeto que altera as regras do cadastro positivo na Câmara dos Deputados. Por pouco, o governo não fracassa na votação.
O presidente da Câmara, Rodrigo Maia, impediu a derrota. Após perceber que havia risco de a proposta não ser aprovada, Maia encerrou a sessão. Seria muito ruim para a nova equipe um fiasco logo no primeiro teste de votação de uma medida da agenda econômica depois da troca de comando com as saídas de Henrique Meirelles e Dyogo Oliveira. A votação deve ficar para a próxima semana, mas a aprovação não está garantida. A área econômica vai suar a camisa, incluindo o Banco Central, que tem sido mais feliz na articulação com o Congresso.
Na briga com os parlamentares, Guardia tem em sua defesa o presidente da Câmara, com quem estreitou ainda mais as relações depois de assumir o cargo e tem feito visitas recentes, sem a presença de outras lideranças importantes.
Além de gostar do ministro, o parlamentar fluminense é um dos principais adversários políticos na Casa de Jovair Arantes, líder do PTB e crítico aberto do ministro da Fazenda.
Como já era mais do que esperado em ano eleitoral, a insatisfação política com a área econômica é grande. E as razões de alguma forma sempre batem no caixa do governo. Os parlamentares querem desbloquear o Orçamento apertado, liberar emendas e mais recursos para os Estados com crédito barato, além de adotar medidas populares. Tudo a tempo de mostrar serviço para os eleitores na campanha.
Sem espaço de negociação, avançam em pautas que colocam em risco o que já foi feito para o equilíbrio das contas públicas e que se mostra ainda bastante frágil. A votação em comissão do Senado do projeto que libera o saque do FGTS para o trabalhador que pedir demissão é uma prova dessa movimentação. A proposta pode avançar e impor ao presidente o desgaste de barrar essa medida com apelo popular.
A derrota mais certeira que se avizinha é o projeto de reoneração da folha de pagamento das empresas. É uma bola cantada desde o ano passado. O governo precisa aprovar esse projeto para abrir espaço de R$ 16 bilhões no teto de gastos de 2019, como reforçou o ministro do Planejamento, Esteves Colnago, em entrevista ao Estadão/Broadcast.
O teto restringiu a apenas R$ 98,4 bilhões o volume de despesas que o governo terá liberdade para administrar, aqueles gastos não obrigatórios. É o mesmo patamar de 10 anos atrás – nível que não permite a máquina rodar.
Pegou muito mal o discurso dos novos ministros de que o “fiscal” (forma de se referir às contas públicas) de 2018 estava resolvido, mesmo sem os recursos da privatização da Eletrobrás. Passou a impressão de que o importante era chegar vivo até o fim o ano sem se importar com a “herança” para o próximo presidente da República.
Essa falha na comunicação já percebida pelos mais atentos observadores do mercado financeiro, que veem com preocupação e desânimo a paradeira dos investimentos e o risco cada vez mais evidente de um crescimento bem mais tímido da economia em 2018, longe de um PIB mais robusto, acima de 3%.
Como em 2014, o tamanho da bomba para o colo do próximo presidente está só crescendo.
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