Preocupa que o índice de cobertura da população por vacinas esteja baixo, não só no sarampo, e venezuelanos entrem no país sem estar imunizados
No ano passado, houve evidências de que a barreira de proteção da população, por vacinas, havia sido rompida. A febre amarela migrou de seus santuários nas florestas e invadiu áreas urbanas no Sudeste. Houve ações de vacinação localizadas, mas a população não pode ter certeza de que o perigo foi afastado.
Para agravar as suspeitas de fragilidades sanitárias no país, a crise terminal por que passa a Venezuela — em que o bolivarianismo chavista desmontou o setor produtivo privado e desorganizou o Estado — deflagrou êxodo da população, principalmente rumo à Colômbia e ao Brasil, com ela veio o vírus do sarampo e talvez outras doenças. Por isso, no Norte, multiplicam-se os casos.
No Amazonas, onde não se registrava a doença há 18 anos, já existem aproximadamente dois mil casos suspeitos. E exames sobre a genética do vírus constataram que ele é o mesmo que circula na Venezuela.
Um aspecto grave é que a maioria das ocorrências está em Manaus, o que facilita sua propagação pelo país. Não surpreende, portanto, que haja indícios de contaminações no Rio, há quase 20 anos também sem casos.
A situação precisa ser entendida pelas autoridades e população como de emergência. A Venezuela não propaga apenas sarampo. Existe no país um surto também de difteria, e teme-se a volta da poliomielite (paralisia infantil). Uma suspeita não foi confirmada, mas não significa que a doença não retorne, dadas as condições precárias do país.
É preocupante que ocorra esta catástrofe sanitária na Venezuela enquanto a cobertura de vacinas, no Brasil, está baixa. Em termos gerais, exige-se que cerca de 95% da populaçãoalvo estejam imunizados.
Mas na pólio, por exemplo, segundo o Ministério da Saúde, há estados com parcelas de mais de 10% de municípios com a cobertura abaixo de 50% — Bahia, Maranhão, Piauí, Roraima, Rio Grande do Norte e Pará.
Não há uma explicação única para a imunização baixa. Uma delas é que, depois de tantos anos sem a ocorrência de surtos dessas doenças, as novas gerações de brasileiros teriam deixado de dar importância às vacinas, um erro que pode ser fatal. Ao que se soma o efeito de desinformações e de campanhas equivocadas que circulam em redes sociais.
Um indicador do descaso, no Rio de Janeiro, é o fato de a campanha de vacinação contra gripe, deste ano, ter chegado ao fim com apenas 65% do público-alvo atingidos. A solução foi deixar os postos abastecidos para atenderem quem os procurar. Mas as vacinas não podem ser guardadas indefinidamente.
Falta, é certo, uma ação ampla e coordenada do poder público para alertar a população sobre o quadro de emergência. Roga-se, também, que já seja feito o devido planejamento da logística para campanhas de vacinação.
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