sexta-feira, 24 de agosto de 2018

Bolsonaro quer ensinar criança a usar armas

Por Cristiane Agostine | Valor Econômico

ARAÇATUBA (SP) - O candidato à Presidência pelo PSL, Jair Bolsonaro (RJ), disse ontem que ensinou os próprios filhos a atirar quando eles tinham cinco anos e que "encoraja, sim", esse tipo de prática para evitar que haja uma geração de "covardes" na sociedade. "Não podemos mais ter uma geração de covardes, de ovelhas, morrendo nas mãos de bandidos sem reagir", afirmou, depois de participar de atos de campanha nas cidades de Araçatuba e Glicério, no interior do Estado de São Paulo.

Bolsonaro criticou o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) e disse que esse conjunto de normas deve ser "rasgado e jogado na latrina". "Defendo que um pai ensine o que é uma arma de fogo para seu filho, para que serve".

Bolsonaro encoraja pais a ensinarem crianças a atirar
O candidato à Presidência pelo PSL, deputado federal Jair Bolsonaro (RJ), afirmou ontem que seus filhos atiram com arma de fogo desde os cinco anos e que "encoraja, sim" esse tipo de conduta, para evitar que haja uma geração de "covardes" na sociedade. O presidenciável disse ainda que o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) deve ser "rasgado e jogado na latrina".

"Defendo que um pai ensine o que é uma arma de fogo para seu filho, para que serve. Nas comunidades tem moleque usando fuzil maior do que ele. Não podemos criar uma geração de covardes, de submissos", afirmou, ao lado de seu filho Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), deputado federal e candidato à reeleição.

O Estatuto da Criança e do Adolescente, no artigo 242, proíbe a conduta de "vender, fornecer ainda que gratuitamente ou entregar, de qualquer forma, a criança ou adolescente arma, munição ou explosivo". A pena prevista é de três a seis anos de reclusão.

O presidenciável defendeu também a redução da maioridade penal e voltou a atacar o estatuto, que preserva os direitos de crianças e adolescentes. "Esse ECA tem que ser rasgado e jogado na latrina. Não pune o menor. Tem que reduzir a maioridade penal, se possível para 14 [anos]. Se não der, [reduz] para 17, 16 [anos]. Esse ECA é um estímulo à vagabundagem, à malandragem", afirmou. "Tem gente achando que eles [menores de idade] não estão devidamente formados ainda e têm que ter outra chance. Se matar ou estuprar um parente meu pode ter certeza de que esse cara não vai ter outra chance não. "


Antes da entrevista, Bolsonaro fez campanha dentro da Prefeitura de Glicério e declarou a uma plateia de políticos que seus "filhos todos atiraram desde os cinco anos". "Real. Não é ficção", disse. Nas caminhadas e discursos que fez em Araçatuba e em Glicério, o presidenciável repetiu dezenas de vezes um gesto com as mãos, como se estivesse atirando, inclusive quando estava junto com crianças de colo.

Em seu périplo pelo interior paulista, tradicional reduto tucano, Bolsonaro buscou os votos dos descontentes com o presidenciável do PSDB e ex-governador de São Paulo, Geraldo Alckmin. Araçatuba e Glicério são governadas pelo PSDB.

Com 4,8 mil habitantes, Glicério parou para ver o candidato, que nasceu na cidade há 63 anos. O prefeito e militar da reserva, Ildo de Souza, o Ildo Gaúcho (PSDB), foi o anfitrião e mestre de cerimônias e a praça central da cidade foi transformada em palanque, com direito a churrasquinho e outdoor com saudação à visita do conterrâneo e a frase "Brasil acima de tudo, Deus acima de todos", lema do PSL. Recebido com a música tema do filme "2001, uma Odisseia no Espaço" e gritos de "mito", Bolsonaro afirmou que está vivendo uma "missão de Deus".

Em meio a elogios a Bolsonaro, o prefeito de Glicério disse ter ficado revoltado com a aliança de Alckmin com o Centrão. "Cada um faz suas escolhas e coligações, mas depois colhe os votos do que plantou", disse, sem declarar abertamente o voto ao candidato do PSL. Segundo Ildo Gaúcho, dez prefeitos do PSDB, DEM, PTB e PV estavam no ato, mas não listou nenhum nome.

Antes de Glicério, Bolsonaro fez uma carreata e caminhada em Araçatuba. A policiais militares e civis, disse "bater continência". "Conosco não haverá essa politicalha de direitos humanos. Essa bandidada vai morrer", afirmou.

Bolsonaro evitou falar sobre a estratégia jurídica para defender sua candidatura, que foi contestada no Tribunal Superior Eleitoral porque é réu em duas ações. Na próxima semana, o STF deve julgar mais uma denúncia contra ele (ver ao lado). "Querem me tirar no tapetão, no ativismo judicial". O candidato afirmou que não irá mais a sabatinas, mas que deverá participar dos próximos três debates na televisão.

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