Independentemente
do tamanho do acerto do presidente Jair Bolsonaro com o comando
do Congresso para
a saída do impasse sobre as emendas parlamentares do Orçamento de 2021, a crise
política já deixou mágoas e feridas abertas na relação entre o Senado e a Câmara e
também com o governo.
As
cicatrizes poderão ser maiores ou menores a depender da forma como o presidente
vai bater o martelo. Bolsonaro tem prazo até dia 22 para sancionar o Orçamento.
De hoje até lá, parece uma eternidade.
Foi assim em 2020, quando impasse orçamentário semelhante se instalou na República, no momento em que a pandemia da covid-19 mostrava a sua cara no Brasil. A diferença é que agora Senado e Câmara estão divididos. Lideranças já avisaram que o rancor é grande no Senado com Paulo Guedes pela postura que consideram errática do ministro da Economia em relação ao acordo feito pelo governo para acomodar o aumento das emendas parlamentares com cortes de despesas obrigatórias.
O Senado ficou com a imagem chamuscada porque não cumpriu o acordo das emendas e aumentou a parcela para obras de interesse dos senadores. Será, portanto, o mais atingido pelo desfecho da crise, que ainda não está fechado e terá de passar pelo arbítrio do presidente Bolsonaro. Por sua vez, a Câmara vai ficar com o que já tinha negociado antes da votação. É para isso que o presidente da Casa, Arthur Lira, luta e sobe o tom: garantir o mesmo valor das emendas parlamentares para os deputados que já estava acertado. Nenhum centavo a mais ou a menos.
A
crise causa frisson e explica o vaivém de rumores que têm surgido no mercado
com o processo “estica a corda” do Centrão. É o jogo de pressão
funcionando.
No
mercado financeiro, enquanto reunião sobre Orçamento acontecia em Brasília, a especulação que corria era
de que, se não houvesse acordo, Guedes poderia cair. Quem não gosta do ministro
da Economia pega carona na crise para desgastá-lo ainda mais.
Enquanto
a corda estica, o recado que vem sendo transmitido pelos líderes é que haverá
maior dificuldade para aprovação dos projetos de interesse da área econômica.
Muitos falam em retaliação a Guedes que na visão deles trava o acordo.
Um
aperitivo já foi dado pelo Senado que colocou na pauta de votação projeto que
permite às empresas cortarem jornada e salário dos funcionários ou suspenderem
contratos neste ano, nos mesmos moldes do programa adotado em 2020, o BEm.
Na
hesitação do governo sobre como bancar o BEm em alinhamento às regras fiscais,
o Senado foi lá e cravou uma no governo, que no mesmo dia saiu do muro e mandou
projeto para alterar a Lei de Diretrizes
Orçamentárias e abrir caminho ao financiamento do BEm
por meio de créditos extraordinários e sem compensação de aumento de
arrecadação ou mais corte de despesa.
O
recado político do Congresso, que tem chegado até empresários e banqueiros, é o
de que haverá distensão política com uma saída honrosa para a crise do
Orçamento e que o tamanho das emendas não será o que foi aprovado.
Mas
esse mesmo PIB,
que fica cobrando publicamente as reformas, já sabe que não terá mais nenhuma
aprovada. Ninguém tem expectativa de reforma nem sonha mais com elas.
Por
outro lado, o recado transmitido por empresários a interlocutores do governo é
que pare de meter os pés pelas mãos (ou seja, de fazer besteira) para chegar
até o ano que vem, quando haverá folga orçamentária pela correção do teto de
gastos pela inflação mais alta.
“Não
regredir mais” virou o ponto mais alto do sarrafo das cobranças dos empresários
junto com mais vacina e melhoria das relações diplomáticas. São oito meses até
o fim do ano. Depois é só eleição e nada mais.
Guedes
tenta evitar a decretação de calamidade (tema da última coluna) e quer
administrar a edição de novos créditos extraordinários de medidas de combate ao
impacto da pandemia na base do conta-gotas para controlar a expansão dos
gastos.
E
o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, trabalha para
comunicar o dilema orçamentário apontado pelo Copom como risco adicional para
a inflação que
pode levar a uma alta maior dos juros, como apontado por ele em entrevista ao
Estadão publicada no domingo.
Guedes e Campos Neto estariam com Bolsonaro nesta quarta-feira em jantar com empresários. Tentativa do governo de estancar a sangria que faz com que o presidente esteja perdendo apoio na parcela do PIB brasileiro que o ajudou na sua eleição em 2018.
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