O Estado de S. Paulo
A Amazônia foi assunto central na COP-26.
Precisamos dela para ter alguma relevância no mundo
Uma campanha agressiva realizada em 2006
teve função civilizatória no Brasil. Na ocasião, o Greenpeace divulgou um estudo
mostrando como a produção brasileira de soja contribuía para o desmatamento na
Amazônia. Foi o ponto de partida para um pacto chamado “moratória da soja”, em
que empresas produtoras de alimentos, como a Cargill, e cadeias de lanchonetes,
como o Mcdonald’s, se comprometeram, respectivamente, a não desmatar e a não
mais comprar insumos oriundos do desmatamento.
Deu certo. A agricultura brasileira da soja
passou a crescer por aumento de produtividade. Quando precisou se expandir,
segundo estudo da rede acadêmica Climate Policy Initiative, foi sobre
pastagens, e não florestas. “A agricultura brasileira não precisa de novas
terras, e ganhamos mais com a floresta em pé”, diz o economista Juliano
Assunção, um dos autores do estudo. Ele é o entrevistado do minipodcast da
semana.
Apenas em uma das cinco regiões do Brasil esse padrão não se verifica: o Norte, justamente onde se situa a maior parte da Amazônia. “Lá não se cortam árvores para instalar agricultura ou pecuária relevante. É crime mesmo, que tem que ser combatido”, diz Assunção. O estudo mostra que o desmatamento – que nesta semana bateu novo recorde, segundo dados do Inpe – não gerou nenhuma atividade econômica importante na região. “Na Indonésia se desmata para produzir óleo de palma. No Brasil, o criminoso coloca bois em áreas griladas para fingir que tem alguma atividade econômica, mas não gera riqueza nem emprego”, afirma Assunção.
O que fazer, então, para criar emprego e
riqueza na região? Assunção é um dos coordenadores do projeto Amazônia 2030 –
que pretende, entre outras coisas, responder a esta pergunta. O Amazônia 2030
acaba de lançar estudo – anexado à versão digital desta coluna – que lista
perspectivas, por exemplo, na produção de cacau, mandioca e mel. Os autores
olham para os imensos desafios de desenvolver atividades produtivas numa região
isolada, e propõem soluções.
A Amazônia foi assunto central na COP-26 de
Glasgow. Consolidaram-se algumas convicções anunciadas nos estudos. A
devastação da floresta não gera riqueza. O agronegócio não precisa invadir a
Amazônia para crescer. É possível criar atividades econômicas sustentáveis na
região, embora seja desafiador. E campanhas ambientalistas agressivas ajudam a
mover pactos que unem governos, setor produtivo e sociedade civil. Precisamos
da Amazônia para ter alguma relevância no mundo, e só será possível mantê-la
com a participação – mesmo que com uma parcela de conflito – de diversos
atores. •
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