domingo, 30 de outubro de 2022

Elio Gaspari - Bial foi o melhor do debate

O Globo

Infelizmente, no último encontro os dois candidatos foram agressivos e repetitivos

Hoje as urnas falarão. Infelizmente, no último debate os dois candidatos foram agressivos e repetitivos. É verdade que, sendo repetitivo, Lula falava do seu governo, tinha um acervo que falta a Bolsonaro. Houve uma pandemia, mas sua conduta não o credencia. Bolsonaro falava do seu governo e instalou-se na crítica que o beneficiou em 2018. Ambos diziam que o outro é mentiroso. Como disse Bolsonaro, “chegamos a um impasse aqui”. Quem ficou preso no impasse foi o eleitor.

As únicas propostas transmitidas durante as duas horas do debate vieram nos comerciais, com Pedro Bial pedindo doações para os refugiados das Nações Unidas, contando a história da menina Ana. Além dele, o Programa Médicos sem Fronteiras, pedia doações de R$ 30 mensais.

Bolsonaro defendendo a Constituição parecia uma cena de comédia italiana. Do treinamento dos dois candidatos resultou que Lula administrou direito seu tempo e afastou-se fisicamente do adversário. Deixou Bolsonaro cenograficamente isolado no cenário. O bordão “vai pra casa Lula”, repetido do debate anterior, parece ser inócuo porque no primeiro turno 57,2 milhões de pessoas acharam o contrário.

Os dois primeiros blocos do debate foram apenas cansativos, com dois senhores insultando-se.

Mesmo quando Lula apontou para o calcanhar de Bolsonaro e levantou o tema da pandemia de Covid o debate da Globo repetiu o da Band. Voltaram ao ponto de partida, com um chamando o outro de mentiroso, com Bolsonaro preso à bola de ferro dos 680 mil mortos. Ganha uma caixa de Viagra quem souber de alguém que toma a pastilha com o objetivo mencionado por Bolsonaro no seu compulsivo exercício ilegal da medicina.

Todo governante carrega defeitos. Lula nadou de braçada quando cobrou resultados a Bolsonaro. Capitão ia buscar desastres velhos. Os dois sentiam-se melhor quando o outro não respondia ou permitia que o chamasse de mentiroso.

Bolsonaro, incumbente, jogou na defesa e, como ensina o futebol, quem não faz gol, toma. Felizmente voltaram os comerciais, com Ambipar falando do meio ambiente.

Terminados os blocos dos insultos, os candidatos foram obrigados a anunciar o que pretendem fazer de Pindorama nos próximos quatro anos. Ambos ofereceram suas plataformas. Cada eleitor poderá julgá-las.

Sobraram duas promessas concretas. Lula diz que isentará de imposto de renda quem tem renda inferior a R$ 5 mil mensais. (Em 2018, Bolsonaro prometeu e não cumpriu.) O capitão prometeu um salário mínimo de R$ 1.400, perdeu-se no palanque de 2018 e por pouco não pediu votos para voltar à Câmara dos Deputados.

Na dúvida, quem quiser pode mandar uma pequena doação para refugiados da ONU, como pede Pedro Bial, ou para o programa Médicos sem Fronteiras.

Aviso aos navegantes

Contados os votos, sempre aparece alguém pensando em lances excêntricos.

Na eleição de hoje as cartas foram para a mesa na segunda-feira.

No primeiro lance, o ministro das Comunicações, Fábio Faria, ladeado por Fabio Wajngarten, assessor da campanha bolsonarista, denunciou uma fraude nas inserções radiofônicas.

No segundo lance, Eduardo Bolsonaro pediu o adiamento da eleição. No terceiro, o pai de Flávio reuniu-se com ministros, inclusive os comandantes militares.

Tomaram um contravapor do ministro Alexandre de Moraes: a falha não era do TSE e, se houve, veio do partido do capitão.

Na sexta-feira, o ministro Fábio Faria informou:

“Me arrependi profundamente de ter participado daquela entrevista coletiva. Se eu soubesse que (a crise) iria escalar, eu não teria entrado no assunto”.

Caso raro de honestidade política.

Em outros tempos Pindorama passou por coisas parecidas em três ocasiões:

Em 1982, armou-se um esquema de roubo de votos no sistema de totalização da empresa privada Proconsult. Deu em escândalo.

Em 1981, a “tigrada” do DOI do Rio, armou um atentado talvez para tumultuar um show no Riocentro, explodindo um carro no estacionamento. Morreu o sargento que tinha a bomba no colo.

Em agosto de 1954, a guarda pessoal de Getúlio Vargas armou um atentado contra o jornalista Carlos Lacerda. Contrataram um pistoleiro e foram à cena do crime num táxi do ponto perto do palácio presidencial.

Atiraram e mataram um major da Aeronáutica que escoltava Lacerda.

O motorista apresentou-se à polícia na manhã do crime e dois dias depois identificou o passageiro. Era um dos capangas do presidente.

Vargas matou-se.

Conta outra, doutor

Campanha eleitoral transforma urubu em meu louro. O doutor Paulo Guedes resolveu acertar o ex-ministro da Fazenda Henrique Meirelles, que decidiu apoiar Lula.

Como Meirelles disse que Guedes furou o teto de gastos, ele atirou:

“Nós furamos o teto porque é um teto muito mal construído. É tão mal construído que o economista não é nem economista.”

Noves fora a engenharia do teto, Guedes vestiu a camisa do sindicalismo corporativista ao dizer que Meirelles “não é nem economista”.

Não eram economistas:

Pedro Malan, Mário Henrique Simonsen e Eugênio Gudin formaram-se como engenheiros. Roberto Campos era diplomata. Joaquim Murtinho, o ferrabrás da República Velha, era também médico e homeopata.

O primeiro professor de “ciência econômica” brasileiro foi o Visconde de Cairu (1756-1835). Estudou em Portugal com bolsa da Viúva, passou a vida em cargos públicos, aposentou-se aos 50 anos e nunca deu uma aula. Não produziu um só prego.

Onipotência verbal

Paulo Guedes padece de onipotência verbal. Quando ele insinua, quatro dias antes de uma eleição que o PT poderá taxar as transações com o Pix, exagera.

O PT nunca propôs isso. Quem propôs taxar as transações eletrônicas foi ele.

Aos fatos:

Em dezembro de 2019, depois do fracasso da ressurreição da CPMF, o doutor disse:

“Tem transações digitais. Você precisa de algum imposto, tem que ter um imposto que tribute essa transação digital.”

Novos nomes

Sejam quais forem os resultados da eleição de hoje, a política brasileira tem três novos nomes.

De longe, o primeiro nome é o de Simone Tebet, seguida de perto pelo mineiro Romeu Zema. Adiante, surge Tarcísio de Freitas, ganhando ou perdendo o governo de São Paulo.

O fardo do homem branco

A chegada de Rishi Sunak ao cargo de primeiro-ministro da Inglaterra é uma boa ocasião para se pensar no destino dos povos. Ele nasceu na Grã-Bretanha, neto de indianos. Seu pai nasceu no Quênia e a mãe no Tanganyika (atual Tanzânia). Ao tempo do avô de Sunak, Winston Churchill debochava de Gandhi chamando-o de “faquir seminu”.

Naquele século, negros do Quênia rebelaram-se contra o domínio inglês e prenderam por vários meses Hussein Onyango Obama, avô de futuro presidente dos Estados Unidos.

Em 1899, o inglês Rudyard Kipling (nascido na Índia) escreveu seu famoso poema “O fardo do homem branco”, atiçando iniciativas imperialistas. Vinte anos depois ele veio ao Brasil e, ao chegar a Salvador, perguntou onde estavam os índios ao jovem repórter que o acompanhava. Era Luís Viana Filho, que viria a ser governador da Bahia.

 

4 comentários:

Anônimo disse...

Paulo Jegue um pedante ao desserviço do Bozo . Invejoso dos bons economistas . Trambiqueiro mor do .Brasil , vive para perseguir os pobres os quais mandou para a fila dos ossos. Fora Paulo Jegue!!!!

Anônimo disse...

Tomara que jamais tenhamos que ver essa tua cara lambida.

Anônimo disse...

Não é possível que Gaspari tenha se convencido da honestidade política do ministro Fabio Faria. Não é lógico supor que Faria não imaginasse o que a campanha bolsonarista pretendia com a falsa denúncia. O ministro se diz arrependido, mas não é ingênuo e CERTAMENTE SABIA MUITO BEM o que pretendia a campanha bolsonarista ao lançar as falsas denúncias, quando na verdade se houve algo foi FALTA DE FISCALIZAÇÃO da sua própria campanha! Faria apenas tenta agora se eximir de problemas com a Justiça, pois pode ser acusado de denunciação falsa!

ADEMAR AMANCIO disse...

Tem gente que entende tudo de economia mesmo sem ser economista.