O Estado de S. Paulo
Brasil articula o único consenso possível na ONU: a questão humanitária, os civis e as crianças
Ao convocar uma reunião extraordinária do
Conselho de Segurança da ONU para esta sexta-feira, o Brasil sacou a única
chance de não dar em nada: focar na questão humanitária. A guerra exige
urgência, e discutir a toque de caixa uma solução para um conflito que dura
décadas, ou carimbar ou não de terrorista o grupo efetivamente terrorista
Hamas, seria perda de tempo, ou até o acirramento do racha internacional. Mas
quem pode se manifestar contra o massacre de crianças, mulheres e civis? E a
decapitação de bebês? Esse é o consenso possível.
O secretário-geral da ONU, António Guterres, apoia essa linha, mas há obstáculos a um consenso: a polarização mundial e a exigência de pelo menos nove dos 15 votos do conselho e de nenhum veto entre os cinco países que são membros permanentes. Será?
Lula desperdiçou a guerra da Ucrânia e tenta
se equilibrar na de Israel para perseguir seu velho sonho de protagonismo, dele
e do Brasil, nos debates internacionais, até com o cada vez mais distante Nobel
da Paz. É agora ou nunca, com o Brasil na presidência rotativa do Conselho de
Segurança justamente durante o ataque insano do Hamas, ameaçando o Oriente
Médio e a geopolítica mundial.
Se Lula não citou o Hamas, mas condenou no
primeiro momento o “ataque terrorista”, as notas do Itamaraty não citam nem o
grupo nem o termo “terrorista” e trataram o assassinato de dois jovens
brasileiros, Ranani Glazer e Bruna Valeanu, como “falecimento” e “morte”. Assim
como terrorismo é terrorismo, assassinato é assassinato. A acusação dos
opositores do governo e do PT é de condescendência com o Hamas, o que fragiliza
a posição, o discurso interno e as aspirações internacionais de Lula.
A explicação do governo é, como sempre, com a
tradição diplomática brasileira de não fechar portas. Assim como avaliava que a
Rússia tinha lá suas razões, analisa agora que o Hamas tem lá as suas, após
anos e anos, décadas de uma rotina de maltrato e humilhações. O consenso
internacional, porém, é de que não há como mitigar nenhum dos dois casos: nada
justifica a Rússia invadir a Ucrânia e o Hamas massacrar a população civil e
sequestrar mulheres e crianças israelenses. Nem a reação devastadora de Israel
contra civis em Gaza.
Em tudo há dois lados e razões históricas,
mas a questão agora é a barbárie. O foco está no hoje, no agora e na urgência
dos civis, além de estar, também, no risco de uma escalada de proporções ainda
inimagináveis.
2 comentários:
Uma pessoa assassinada não é falecida?
Não,não tenho lado nessa história macabra e fratricida.
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