O Estado de S. Paulo
Se o soldado tiver a disposição de não fazer prisioneiros, a civilização é que será derrotada
Em uma guerra, o cansaço e a indiferença
permitem ao absurdo e à destruição se misturarem à paisagem sem interromper os
afazeres diários dos combatentes. Oficial de artilharia na frente ocidental em
1914-1918, o poeta Guillaume Apollinaire explicou em um verso de seus
Calligrammes a razão então desse fenômeno: “Car on a poussé très loin durant
cette guerre l’art de l’invisibilité”. Eis que se levara longe demais a arte da
invisibilidade. Naquela guerra, como em Gaza.
Na semana passada, três reféns do Hamas levantaram as mãos e traziam uma bandeira branca, mas seus gestos permaneceram invisíveis aos soldados de Israel que deviam salvá-los. Os três foram abatidos. Fatalidade? Quando soldados vão à batalha em meio à aparente disposição de não fazer prisioneiros, é a civilização que é derrotada.
Quem não percebeu o alcance daquelas três
mortes devia ler o artigo O Custo da Resposta Israelense ao Ataque do Hamas, de
Paulo Gomes Filho, coronel do Exército brasileiro. Ou responder à pergunta do
cientista político John J. Mearsheimer no artigo Death and Destruction in Gaza.
A reação israelense ao terror do Hamas dissemina a rejeição ao sofrimento
imposto a civis não combatentes. “O chinês
Sun Tzu, autor de Arte da Guerra, destaca
que, dentre os cinco erros que podiam ser cometidos por um general estavam a
imprudência, que leva à destruição, e a cólera, que leva à precipitação”,
lembrou o coronel, antes de questionar: “Estariam os líderes israelenses
motivados por uma cólera imprudente?”
Podem-se exibir túneis, armas e a impiedade
do Hamas. Sabe-se que ele se mistura a civis e deliberadamente põe em risco a
população para causar danos ao Tsahal. Mas o comportamento do terrorista não
autoriza Israel a usar quaisquer meios ou métodos de combate para alcançar seus
objetivos militares.
Para o coronel, ao optar por ações que
alcançam de forma imediata seus objetivos táticos, mas causam muitos danos
colaterais, Israel pode colher no futuro uma derrota no nível estratégico. “A
vitória de Israel, no campo da tática, é questão de tempo. Mas a conquista dos
objetivos militares é só uma parte da operação. Depois dela, virá a mais
difícil: estabilizar a Faixa de Gaza e encontrar uma forma para que israelenses
e palestinos convivam em harmonia.”
Ainda que a ideia de um mundo pacífico,
embora atraente, não seja prática ou que a sobrevivência seja o principal
objetivo das Nações, Mearsheimer endereçou sua pergunta “aos líderes
israelenses e à administração Biden”: “Vocês não têm vergonha?” A resposta a
ela talvez seja a mesma encontrada por Apollinaire: quando o obus assume a cor
da lua é preciso lembrar que existem homens no mundo que não foram jamais à
guerra.
2 comentários:
Os militares israelenses ASSASSINARAM mais de 20 MIL CIVIS palestinos após os membros do Hamas terem ASSASSINADO 1200 civis israelenses. É assim que Israel "se defende", com apoio dos EUA e de quase todos os governos europeus... Nesta semana, até os próprios reféns israelenses foram ASSASSINADOS por soldados israelenses. Mais de 7 MIL CRIANÇAS PALESTINAS, mais de 70 profissionais de imprensa, mais de 100 funcionários da ONU, algumas dezenas de profissionais de saúde tiveram o mesmo destino: FORAM ABATIDOS pelas balas e bombas lançadas diariamente pelas forças armadas de Israel, comandadas pelo CARNICEIRO E CRIMINOSO DE GUERRA NETANYAHU.
Biden’s troubled Gaza strategy: ‘the US looks feckless’ | West Observer
https://westobserver.com/business/bidens-troubled-gaza-strategy-the-us-looks-feckless/
Israeli destruction of Gaza surpasses that of Mariupol, WW2 Germany
https://www.trtworld.com/middle-east/israeli-destruction-of-gaza-surpasses-that-of-mariupol-ww2-germany-16341083
US-based software guru lambasts tech world's silence on 'Gaza genocide'
https://www.trtworld.com/middle-east/us-based-software-guru-lambasts-tech-worlds-silence-on-gaza-genocide-16331734
I can't sleep
https://blog.paulbiggar.com/i-cant-sleep/
Paul Biggar
Dec 14, 2023
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