O Globo
O crime funciona como um imposto sobre toda a
economia: desencoraja o investimento e eleva o custo operacional das empresas
Uma visão muito presente, e simplista, no
discurso petista é a de que o aumento dos gastos públicos é a saída para o
crescimento econômico. Prendem-se aos efeitos parciais e de curto prazo, como
no crescimento recente do PIB, impactado pela expansão fiscal. Mas não
consideram a dinâmica de médio/longo prazo da economia, quando o efeito da
gastança sobre a inflação, os juros e a taxa de poupança do país — além da
baixa qualidade do gasto público — machucam o crescimento.
Enquanto isso, a insatisfação da sociedade está mais associada à baixa qualidade da ação estatal. A preocupação com a violência escalou, estando no topo das preocupações, segundo o Datafolha. O que o governo precisa é gastar melhor, o que envolve governança, gestão e reformas para reduzir a rigidez do orçamento, temas negligenciados.
Pouco sabemos do quanto a criminalidade
prejudica nossa economia. Talvez seja um dos principais fatores amarrando o
potencial de crescimento do país. E o Brasil não está nada bem na foto. De 112
países pesquisados pelo Escritório das Nações Unidas para Crimes e Drogas em
2021, o país ocupava a 12ª posição no indicador taxa de homicídio. O Brasil
assusta o estrangeiro, turistas e empresas.
A atividade criminosa implica custos diretos
e indiretos variados. Além do sacrifício social, como a piora da qualidade de
vida e da coesão social, e do custo aos cofres públicos, como nos gastos com
saúde e justiça, o crime funciona como um imposto sobre toda a economia:
desencoraja o investimento, eleva o custo operacional das empresas e prejudica
a alocação de recursos. Ao final, colhe-se menor produtividade e baixo
crescimento.
O crime organizado tem um impacto direto na
organização do Estado e em sua capacidade regulatória. Pode-se citar decisões
da Justiça que não são cumpridas, licitações públicas viciadas, serviços
públicos explorados por organizações criminosas e ocupação e negociação ilegal
de terras.
Os jovens são os mais afetados, como
infratores e como maiores vítimas. Em 2021, de cada cem jovens entre 15 e 29
anos que morreram, 49 sofreram violência letal. Dos quase 48 mil homicídios
ocorridos, 50,6% vitimaram os jovens. O crime desencoraja o estudo e afeta a
formação de mão de obra no país, algo ainda mais grave diante do fim do bônus
demográfico.
O quadro varia bastante entre os estados. A
taxa de homicídio do Brasil em 2021 foi de 22,4 por 100 mil habitantes, sendo
os dois extremos o Amapá (52,6) e São Paulo (6,6). E não é correto culpar a
baixa renda, pois as pesquisas internacionais não corroboram essa hipótese,
sendo baixa a correlação entre homicídios e PIB per capita no mundo.
Essa foi uma importante contribuição do Nobel
de Economia de 1992, Gary Becker, que apontou que os indivíduos se tornam
criminosos quando os retornos do crime compensam, levando em consideração a
probabilidade de punição.
Vale citar que, no Brasil, apesar de a
correlação (negativa) entre homicídios e PIB per capita não ser baixa, ela
acaba capturando mais as diferenças entre estados ricos e pobres. Explico:
quando se separam os dois grupos e se recalculam as correlações separadamente,
elas praticamente desaparecem.
Tem estado pobre, como o Piauí, com taxa de
homicídio (23,2) comparável à de estado rico, como o Mato Grosso (24,8). Entre
os mais ricos, São Paulo (6,6) apresenta números significativamente menores do
que o Rio de Janeiro (26,8).
A explicação está em boa medida associada às
diferenças nas gestões estaduais da segurança, como ensina Leandro Piquet
Carneiro. Caberia, pois, ao governo federal maior protagonismo na política de
segurança, inclusive coordenando esforços dos estados. Isso sem perder de vista
o papel da educação, sendo elevada a correlação (negativa) entre escolaridade e
taxa de homicídio. Como apontado por Naercio Menezes Filho, a melhora da
escolaridade reduz a criminalidade.
Considerando os patamares atingidos e a
inércia da atividade criminosa — o criminoso ganha experiência, há reincidência
e jovens são recrutados por pessoas próximas —, a segurança pública deveria ser
prioridade da classe política, incluindo os recursos de emendas parlamentares,
que com frequência são mal alocados. Que o crime seja melhor e mais combatido,
com menos brutalidade e mais inteligência.
Precisamos evitar o ponto de não retorno na
segurança pública.
Um comentário:
Verdade.
Postar um comentário