O Estado de S. Paulo
A economia e o governo até vão bem, o que vai mal é o presidente, que fala muito e mal
É bem possível que os ministros não entendam nada de comunicação, mas o grande problema do governo não é esse, mas, sim, que o presidente Lula se comunica excessivamente e mal, dando uma bola fora atrás da outra. As duas últimas vindo a público são a história do sumiço de 261 móveis, obras e objetos do Alvorada e a notícia de que, ora, ora, o governo Lula decreta cem anos de sigilo para 1.339 pedidos de informação, como Bolsonaro fazia, sob chuvas de protestos.
Seria uma irresponsabilidade inadmissível se
fosse qualquer um, mas é muito grave quando o presidente mais do que insinua,
praticamente acusa o antecessor de ter levado embora até o mobiliário do
palácio residencial. Irresponsável, grave e sujeita a processo, a declaração
fica ainda pior porque os novos móveis foram comprados sem licitação e tem
efeito colateral depois de revelado que estava tudo lá: o uso político de
Bolsonaro e bolsonaristas. O MP já tinha embolado “importunação de baleia” com
fraude em atestado de vacinas, uso indevido do cartão corporativo, tentativas
de embolsar e contrabandear joias, além, obviamente, a trama do golpe. A cada
notícia sobre os Bolsonaros, a reação de advogados, amigos e militantes é a
mesma: acusar “perseguição política” e ridicularizar, comparando com a ação da
baleia.
A partir de agora, a baleia volta para águas
profundas e, na narrativa bolsonarista, emergem os móveis do Alvorada.
Misturam-se realidade, delações e provas contra Bolsonaro com a acusação
leviana de Lula. E, assim, Lula dá armas e munições para o inimigo, a quem
chamou de “covardão” por não ter ido até o fim com o golpe. Onde Lula está com
a cabeça?
E essa história dos cem anos de perdão, ops!,
de sigilo? Algum gênio lança a ideia e o presidente repete o que ele e todos os
demais criticavam em Bolsonaro. Não aprenderam que, não importa quem seja
presidente, alguém descobre móveis e sigilos escandalosos, assim como foram
revelados joias e atestados falsos inseridos na rede do SUS. Nem tentativa de
golpe, liderada pelo expresidente e envolvendo altas patentes militares,
escapou.
A lista de erros de Lula é longa: Venezuela,
Nicarágua, comparar Israel com nazismo, acusar os EUA, sem provas, de ter se
“mancomunado com a Lava Jato”, jogar dinheirama na refinaria Abreu e Lima,
interferir na Petrobras, usar o banco dos Brics e a Vale para “reabilitar”
Dilma e Guido Mantega, desautorizar Fernando Haddad...
Na comparação dos dois balanços, dos erros de
Lula e o distribuído na reunião de segundafeira sobre os feitos do governo, o
governo vai bem, quem vai mal é o presidente. Para desespero, aliás, de quem
morre de medo da volta do bolsonarismo.
Um comentário:
Mesmo assim,o outro era bem pior,rs.
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