Valor Econômico
Desgaste, que já seria inevitável, é potencializado pelas pretensões eleitorais de Michelle Bolsonaro
“Descobrimos que o crucifixo é dele mesmo. Recebeu de presente. Pqp. Matérias furadas na internet”. Esta mensagem saiu às 17h44min do dia 9 de março de 2016 do celular do ex-procurador federal Deltan Dallagnol para seu colega Orlando Martello.
Chegava ao fim, dessa maneira, uma das
histórias mais dramáticas da Lava-Jato, quando o presidente Luiz Inácio
Lula da Silva foi acusado de furtar um crucifixo, supostamente de
Aleijadinho, do gabinete da Presidência no Palácio do Planalto.
Se a Lava-Jato foi atrás de uma “fake news”, o presidente Lula a produziu, na precipitação de relacionar o casal Bolsonaro ao sumiço de móveis do Palácio do Alvorada. O bolsonarismo sapateia em cima do caso. O ex-presidente diz que seu sucessor fez uma falsa comunicação de furto e a ex-primeira dama diz que a acusação foi uma cortina de fumaça para a compra de móveis sem licitação. A Presidência gastou R$ 200 mil para repor os móveis que só agora foram encontrados.
O governo não sabe como reagir. A
Advocacia-Geral da União ainda não foi notificada de nenhuma ação judicial do
casal Bolsonaro em relação ao presidente ou à primeira-dama, que chegou a
gravar entrevista mostrando o Alvorada vazio. A tréplica da Secretaria de
Comunicação, de que foi Jair Bolsonaro quem escondeu os móveis, não resolve.
Não é porque a gestão Lula não tenha achado os móveis de imediato que se
poderia considerar que tivessem sido furtados.
O desgaste, que já seria inevitável, é
potencializado pelas pretensões eleitorais da ex-primeira-dama. Enquanto o
Judiciário pena para incriminar o ex-presidente no leque de acusações que pesam
contra si, Lula, por mais que resista, terá que reconhecer que, nesta,
Bolsonaro está limpo.
É mais uma história a ser debitada na conta
da polarização, construída desde uma campanha eleitoral em que Lula apareceu
como o único nome capaz de vencer Bolsonaro. Como o ex-presidente é filho da
Lava-Jato, seu sucessor encarou a vitória como a revanche de sua inocência.
Lula costuma fazer ponderações sobre a
presunção de inocência quando é indagado sobre malfeitos de terceiros. Neste
caso, porém, chutou o balde. Inebriado, talvez, por uma posse histórica.
Pessoas próximas ao presidente estão convencidas de que os malfeitos de Bolsonaro devem ser deixados a cargo do Judiciário. E que a verdadeira polarização é a das políticas públicas. A saúde é um bom exemplo. Um governo cujo titular é suspeito de ter fraudado o programa nacional de imunizações tem que ser sucedido por outro que, além de devoto do SUS, será capaz de livrar o país da dengue que, só este ano, já matou 630 pessoas.
2 comentários:
Artigo de hoje tá pequeno né
Muito bom.
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