Presidente da Câmara dos Deputados defende manutenção do calendário eleitoral
Por Raphael Di Cunto / Valor Econômico
BRASÍLIA - O presidente da Câmara dos
Deputados, Arthur Lira (PP-AL), afirmou ontem que é completamente comprometido
com a democracia no país e que o ministro da Defesa, Walter Braga Netto, já
desmentiu qualquer ameaça à realização das eleições em 2022 se não for aprovada
a proposta de emenda constitucional (PEC) do voto impresso.
“[Eu] Não precisava ser claro [ao negar o
caso nas redes sociais] porque o próprio ministro, em nota oficial, desmentiu o
acontecido. Eu não participei da conversa”, disse Lira, em entrevista à
GloboNews. “O ministro deixou claro que não fez e, naquele momento, a mim, de
maneira muito coerente, não cabia tocar fogo num momento de recesso. Cabe, sim,
tratar do que interessa: teremos sempre a eleição como forma de escolher nossos
dirigentes no Brasil”, reforçou.
O jornal “O Estado de S. Paulo” publicou na semana passada que um presidente de partido levou a Lira, no começo de julho, uma ameaça feita pelo ministro da Defesa, ao lado dos comandantes das Forças Armadas, de que não ocorreriam eleições em 2022 se a PEC que exige a impressão de um comprovante do voto para futura auditagem não fosse aprovada pelo Congresso. Braga Netto negou em nota a ameaça e disse que não se comunica com presidentes dos Poderes através de intermediários, mas defendeu o debate “legítimo” sobre a PEC. Lira respondeu a matéria nas redes sociais e não negou que tenha ouvido a ameaça, mas defendeu que o julgamento dos eleitores sobre os políticos ocorrerá nas urnas.
Ontem o presidente da Câmara não fez
comentários específicos sobre a defesa de Braga Netto do voto impresso, mas, em
outro trecho da entrevista, quando comentava sobre a reforma eleitoral e dizia
que não influenciaria na decisão dos deputados sobre o tema, o presidente da
Câmara afirmou que “muitas pessoas opinam muito sem poder opinar porque
deveriam se restringir ao seu mister constitucional”.
“Não entro nessa briga de dizer que o
sistema não é confiável, mas, por confiável que seja, não vejo nenhum problema
em ter regras de auditagem se parte da população e dos parlamentares pede esse
debate”, afirmou Lira. “Mas repito: confio na Justiça Eleitoral, confio no
sistema pelo qual fui eleito oito vezes.”
A votação da PEC deve ocorrer na comissão
especial no dia 5 de agosto e a tendência é pela rejeição após presidentes de
11 partidos se reunirem com ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) e
defenderem a confiabilidade das urnas eletrônicas. Aliados do presidente Jair
Bolsonaro marcaram manifestações no dia 1º de agosto a favor da PEC. Lira disse
ontem que os partidos decidirão democraticamente e que, independentemente do
resultado, “ocorrerão eleições em outubro de 2022, de 2024 e 2026”.
Ele afirmou que a nomeação do presidente do
PP, senador Ciro Nogueira (PI), para ministro-chefe da Casa Civil “demonstra
que o caminho” escolhido por Bolsonaro “é o do diálogo e não há nenhum risco à
democracia”. Na opinião dele, o aliado conseguirá melhorar a articulação
política do governo com o Congresso, o Judiciário e até internamente, com “mais
firmeza nas proposições em que o governo tem que demonstrar unidade” e uma
negociação mais efetiva no Senado.
O presidente da Câmara voltou a defender
que não há condições políticas e sociais para abertura de processo de
impeachment contra Bolsonaro e afirmou que as propostas da oposição que
repassam ao plenário o poder de decidir sobre a instauração do processo são
“casuísmo”. “Casuísmo é isso, é ficar discutindo situação de querer mudar uma
regra quando já existe e persiste há vários anos”, afirmou, citando que
presidentes da Câmara do PT e do PSDB seguraram processos contra seus governos.
Segundo Lira, a Câmara começará a analisar na primeira semana de agosto os projetos de reforma do Imposto de Renda, privatização dos Correios e reforma eleitoral. Se a PEC que muda o sistema de eleição para deputado for rejeitada, serão votados projetos para valorizar o voto em mulheres e reservar vagas para elas no Legislativo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário