Folha de S. Paulo
Economia está esfriando, mas ainda há tempo
de fazer retomada mais rápida em 2023
O PIB começou a
andar mais
devagar no terceiro trimestre, que é quase passado remoto, quando se pensa
nas reviravoltas da economia brasileira. Cresceu 0,4% ante o segundo trimestre
e deve ficar estagnado neste final de ano.
O chute informado, embora frequentemente
muito errado, é de crescimento de 1% em 2023, nos casos otimistas. Em termos de
renda (PIB) per capita, por pessoa, seria praticamente estagnação.
Os dados mais recentes sobre o trabalho são do trimestre de agosto a outubro, quase nada mais recentes. O aumento do número de pessoas ocupadas também desacelera. Mas ainda cresce ao ritmo muito bom de 6% ao ano, mais de 5,7 milhões a mais de pessoas empregadas. Ainda menor que em 2019 ou 2018, o salário médio cresce acima da inflação desde setembro, pelo menos.
É muitíssimo improvável que o crescimento
do número de empregos continue nesse ritmo com o PIB crescendo 1%. A inflação
deve cair mais um pouco, mas não o bastante para que as pessoas do mundo real
notem a diferença. Isto é, notariam se os salários continuassem a subir, o que
é muito improvável com a perda de ritmo do emprego.
Nas ruas, o que interessa é salário e
inflação. O Bolsa Família de
R$ 600 vai evitar muita miséria, mas não vai ser novidade. De resto, foi comido
pela inflação ruim.
Politicamente, esse cenário seria um vento
contra o governo de Lula 3, embora a esperança possa sustentar o prestígio
de Luiz Inácio
Lula da Silva. Foi assim em 2003.
Essa descrição pode estar toda errada, para
o bem ou para o mal. Até o fim do primeiro trimestre deste ano, previa-se
crescimento de 0,5% neste 2022; no final do segundo semestre, de 1,5%. É bem
possível que o PIB cresça 3%.
É apenas um indício, entre outros mais sérios,
de que estamos sabendo pouco do funcionamento mais recente da economia
brasileira.
Afora chutes informados, há os dados da
realidade. A taxa básica de juros continuará nas
alturas de 13,75% ao ano até a metade de 2023. Se o pacotão de
endividamento da PEC da Transição vier na faixa superior, é bem provável que as
taxas de juros no mercado saltem para nível ainda maior e que o Banco Central adie
a redução da Selic.
Além disso, de crédito caro e incerteza, as
famílias estão endividadas; a confiança caiu bem em novembro. A economia
mundial não vai ajudar.
Em resumo, na passagem de 2022 para 2023, o
bastão da corrida da economia estará caindo. Para que não vá ao chão, seria
preciso melhorar expectativas e, fundamentalmente, antecipar a baixa da taxa de
juros.
O prejuízo ainda não é grande, mas a
transição do governo Lula 3 já perdeu tempo. Ministro da Fazenda e equipe
econômica serão conhecidos em meados de dezembro. Até que se tenha alguma ideia
do que podem fazer, ainda estaremos no escuro, bem entrado 2023. O tamanho do
pacotão de gasto deve definir o ritmo de queda de juros.
Não é leite derramado, mas algum já vazou
e, a depender de plano e equipe para a economia, pode-se chutar de vez o balde.
A economia está em um esfriamento
previsível, por causa de juros em alta para que se contenha a inflação e pelo
fim do efeito de gasto eleitoral. Daí, pode tomar o rumo de uma retomada até
mais rápida, o que, no curtíssimo prazo, depende de juros, expectativas etc.
Ainda que o governo Lula conseguisse
colocar as famosas obras paradas para andar, isso não é nada simples e demora
(a depender de como for feito, o resultado pode ser até negativo).
Lula 3 pode estrear com vento a favor, mesmo pegando um barquinho talvez parando. No curto prazo, as alternativas são entre mínimas e nulas: evitar juros altos, o que depende do pacotão fiscal, de plano fiscal e da qualidade de equipe econômica.
3 comentários:
Ou seja, pode ficar "bão"...mas pode ficar "rui".
Existe um governo nesse presente momento que é completamente deletado para que seja jogado nas costas da equipe de transição a responsabilidade da qual não tem sobre as expectativas do mercado para o ano que vem. É insana essa leitura? Claro que é. Essas penas compradas da Faria Lima no fundo não querem é entregar a faixa pro Lula e já criam uma atmosfera aterrorizante, para apoiar a derrubada de governo. Nada novo aliás.
Os 600 reais era só para efeito de campanha,mas se o Lula abaixar pega mal.
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