O Estado de S. Paulo
Os ruídos internos de Lula refletem
externamente e os externos, internamente
O Brasil está convivendo com dois Lulas. Um
com enormes ambições internacionais e visitas a 13 países no primeiro ano de
mandato. O outro às voltas com imensos problemas internos para resolver já, o
quanto antes, porque disso depende não só o futuro do País, mas do próprio
governo.
Lula voltou da China e de Abu Dabi no domingo, com uma agenda interna carregada, com envio tanto da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) quanto da nova âncora fiscal para o Congresso ontem, mas uma foi e a outra ficou para depois, hoje, talvez. Mais um atraso.
Trata-se do grande lance econômico de Lula
e o grande teste da articulação política, particularmente com a Câmara, rachada
em quatro: o bloco de Arthur Lira, com 173 deputados; o do grupo paulista, com
142; mais o PL, isolado na extrema direita; e o PT, uma ilha na
centro-esquerda. Lula, aliás, tem de desarmar uma bomba: a CPI dos atos
golpistas, idealizada para atormentar o governo.
Há, também, os ataques às escolas e a onda
de pavor de norte a sul. Lula reúne hoje ministros, governadores, prefeitos,
presidentes de STF, Câmara e Senado para “uma grande reflexão nacional, uma
abordagem além da lógica exclusiva da segurança pública, com psicólogos,
pedagogos, as religiões, toda a sociedade”, diz Rui Costa, da Casa Civil.
Lula também vai meter a mão na trapalhada
da taxação de produtos chineses de até US$ 50 pela internet. Às vésperas da ida
à China? Irritando um eleitorado precioso? Com um plano ainda embrionário? E
ele precisa definir o novo ministro do Supremo, já sabendo que, se for seu
advogado, Cristiano Zanin, a sabatina no Senado vai virar um circo dos
horrores.
Por fim, Lula avisou, a quem interessar
possa, que na volta da China iria discutir, sim, a política de preços da
Petrobras. Governo botando a mão numa empresa com ações na Bolsa e comprometida
com dividendos – a maior parte para a União – deixa investidores daqui e
alhures com o pé atrás.
Tudo isso com agenda internacional cheia:
ontem, o chanceler russo, Sergei Lavrov, e depois uma fila de viagens, a
Portugal, Espanha, Inglaterra, Japão, Argentina, África do Sul, Índia e EUA. E
as duas coisas convergem. Os ruídos internos refletem na dimensão externa e os
externos influenciam a opinião pública e os agentes políticos e econômicos
internos.
Lula tem sido over para o bem e para o mal.
Acerta muito no social, mas com uma guinada estatizante; avança nas relações
internacionais, mas com ruídos contra as democracias ocidentais. Não se defende
mediocridade, mas equilíbrio e bom senso nunca fizeram mal a ninguém – e a
nenhum país.
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