A democracia parecia a grande ideia vitoriosa ao final do século XX. Experiências totalitárias à direita e à esquerda foram derrotadas. O nazifascismo e o stalinismo foram amplamente repudiados. Remanesceram governos autoritários na China, Coréia do Norte, Vietnã, Cuba, Venezuela, Rússia e em diversos países africanos e do Oriente Médio. Mas a democracia estava consolidada na maioria e nos principais países do Mundo, exceto China e Rússia.
Nas idas e vindas da vida, apareceu, na segunda década do
século XXI, o chamado populismo iliberal. Figuras como Trump, Putin, Edorgan,
Orbán, Le Pen, Meloni, Salvini, Bolsonaro, entre outros, ganharam protagonismo.
A democracia como valor permanente e universal foi relativizada. Como o
pressuposto de líderes desse campo é a alimentação e mobilização de suas bolhas
através da radicalização crescente em torno de temas e conteúdos
nacional-chauvinistas (“America Fisrt”, por exemplo), xenófobos (estigmatização
dos imigrantes) e antiesquerda, aproveitando o caldo de cultura resultante das
frustações e ressentimentos com a globalização e dos deslocamentos em massa de
imigrantes africanos, árabes e latino-americanos para os países desenvolvidos,
é instalado uma ambiente de polarização política destrutivo e ameaçador. A
democracia perde sua estabilidade. O embate entre inimigos a serem eliminados
substituí o diálogo democrático visando a construção de consensos progressivos.
No entanto, é preciso ter muito cuidado com uma condenação
superficial e vazia à polarização política. Democracia pressupõe natural
polarização entre os que pensam diferente: a disputa pela hegemonia na
sociedade, a luta de ideias, a competição eleitoral, a disputa legítima do
poder, o exercício da livre manifestação, organização e expressão. É preciso
qualificar a crítica. No Brasil, desde o Império houve polarização, muitas
vezes radical, nas revoltas populares ocorridas. O embate entre Vargas, os
comunistas e os integralistas não era propriamente um mar de rosas. Getúlio, JK
e Jango enfrentaram forte oposição da UDN, Carlos Lacerda à frente, em alguns
momentos com viés golpista. O embate entre o regime militar e as oposições foi
duro. A polarização PSDB/PT foi marcada por uma disputa ferrenha, mas as regras
da democracia nunca foram ameaçadas.
A questão essencial é que a atual polarização, no Brasil e no
mundo, é tóxica, destrutiva, sem respeito mútuo entre as partes. Democracia é
convergência na divergência, consenso a partir do dissenso. Precisamos
urgentemente reaprender isso!
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