quinta-feira, 25 de setembro de 2008

Programa de artistas no Rio

Ricardo Miranda
DEU NO CORREIO BRAZILIENSE


Atores, cantores e dançarinos, conhecidos do público ou ainda anônimos, tentam vaga na Câmara de Vereadores com monólogos que duram no máximo 10 segundos no horário eleitoral do rádio e da TV

Se a capital fluminense, para muita gente, é sinônimo de artistas por todos os lados — nas ruas, nos bares, nas praias —, nada mais natural que, nas eleições municipais, esse universo de atores, cantores, compositores e dançarinos também desfile em busca do voto do eleitorado carioca. Eles já foram mais numerosos e mais relevantes, gente como Francisco Milani, Antonio Pitanga e Neuza Amaral, mas continuam tentando uma vaga na Câmara de Vereadores com monólogos que costumam durar, no máximo, 10 segundos no horário eleitoral gratuito.

“Pela política com arte”, é o que consegue dizer o ator Stepan Nercessian (PPS), presidente do Sindicato dos Artistas e Técnicos em Espetáculos de Diversão do Rio. Militante comunista, esse goiano de Cristalina não é novato nessa arena. Ele tenta a reeleição para vereador. Embora reconheça que o artista, por ser mais conhecido, já começa em vantagem, ele ressalva que muito pouca gente na “categoria” é realmente politizada e que as campanhas deixam todos à míngua, já que são obrigados a se “desincompatibilizar” de seu ganha-pão para obedecer a legislação eleitoral.

Para entrar na campanha, Stepan deixou um quadro no humorístico global Zorra Total e dispensou outros trabalhos, como o de protagonista do humorístico Faça Sua História, da Globo. “É a única profissão em que você precisa parar de trabalhar pra concorrer. Mas a gente vai levando”, conforma-se o ator, bem-humorado.
Na Globo, outra baixa foi o humorista Pedro Bismarck, intérprete do personagem Nerso da Capitinga, que deixou o mesmo Zorra Total porque é cabo eleitoral de um candidato.

Animais

Outro ator — e diretor, tradutor, autor e produtor — que tenta se reeleger vereador no Rio é Claudio Cavalcanti (DEM), cujo mote de campanha é o respeito aos animais e o slogan uma velha gíria, “É isso aí, bicho”, que soa mais como um trocadilho infame. Na propaganda eleitoral na TV, o vegetariano Cláudio surge na tela com um gato no ombro, um cãozinho na mão e a neta no colo, vestida de Branca de Neve (!). “Vou ser ator até morrer, essa é minha grande paixão. Mas tenho como missão de vida a defesa dos direitos dos animais. Só por isso me meti na política. Não sou político nato, com P maiúsculo. Sou assumidamente político de um tema só”, diz Cavalcanti, que tem em casa 26 animais, entre cachorros e gatos.

Já o humorista Castrinho tem circulado em eventos sociais pedindo votos, mas não para ele. A candidata da família é sua mulher, Andrea Loureiro do Valle, que adotou o “nome de urna” de Andrea Castrinho (DEM) e tem, entre suas propostas, seis meses de ônibus grátis para quem doar sangue. Artistas da velha guarda também estão presentes na campanha, como o sambista Noca da Portela (PSB), que, curiosamente, deixou o jingle de sua campanha para o neto, Diogo Pereira.

Na bancada de ilustres desconhecidos, mas reflexo dos nossos tempos, muitos MCs e DJs, como Saddam (PCdoB) e Tião Brasil (PDT), esse último auto-intitulado “o vereador do reggae” e defensor da “revolução rastafari”, seja lá o que isso signifique.

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