Mesmo no mercado
brasileiro, a indústria não consegue concorrer com os produtos importados
Está em crise séria,
talvez terminal, a inserção na economia mundial que o Brasil sempre desejou e
planejou: a da exportação de manufaturas de crescente valor agregado. O que
sustenta as contas externas é a outra inserção, não planejada e até indesejada por
alguns: a das commodities.
Parecia no início que
estava dando certo a estratégia de utilizar os ganhos de escala no Mercosul e
na América Latina a fim de proporcionar à indústria nacional a competitividade
nos mercados globais.
Mesmo nos melhores
tempos, porém, a operação jamais ultrapassou a fase mais fácil: a do domínio do
mercado nacional protegido e de alguns mercados latino-americanos, de forma
parcial, em razão das preferências de acordos regionais.
Aumentou-se a
exportação de manufaturados aos EUA devido à política das multinacionais
americanas de produzir no Brasil e países de custo mais baixo. Mas isso foi
antes que os acordos de livre-comércio tornassem o México o destino principal
desses investimentos. Em relação à Europa e à Ásia, a penetração de manufaturas
brasileiras foi sempre marginal.
Não tendo chegado a
se completar, a estratégia sofre agora retrocessos. Primeiro, na América
Latina, onde estudo da CNI (Confederação Nacional da Indústria) revela que em
todos os nove países examinados, da Argentina à Venezuela, a parcela de mercado
das vendas brasileiras encolheu ao longo do período de 2008 a 2011. A culpa não
foi da crise mundial, pois nossos competidores tiveram desempenho superior, a
China crescendo em todos os mercados.
Outro dado interessante
é que, no primeiro trimestre de 2012, as exportações do Mercosul se expandiram
em 7,5% para o resto do mundo, ao passo que diminuíam em 5,5% no interior do
grupo. O resultado apenas confirma o que ocorre há anos: o comércio
intrarregional está regredindo, já que o mercado para as commodities exportadas
pelos membros se encontra basicamente na China e na Ásia.
O quadro não
surpreende, uma vez que mesmo no mercado brasileiro a indústria não consegue
concorrer com os importados. Em reação, o governo anuncia ofensiva para
recuperar a competitividade interna atuando sobre juros, câmbio, crédito e o
custo Brasil.
Falta à abordagem
condição indispensável para funcionar: a estratégia que assegure um mínimo de
concorrência externa.
A concorrência
exterior não é luxo que possa esperar até sermos competitivos. Desde que não
seja desleal, é essencial para conquistar a competitividade. Sem ela, o destino
da indústria é o da lei de informática e da reserva de mercado automobilística.
Ao elevar alíquotas
de cem produtos, o governo age como se pudesse descer do expresso do comércio
mundial a fim de abordá-lo mais adiante. Quando? Mais 50 anos por causa dos
automóveis? Quem nos garante até lá, as commodities e o pré-sal?
As primeiras dependem
do setor ineficiente para seus insumos, caminhões, por exemplo, para
transportar a safra e acabam perdendo a vantagem de custo.
Quanto ao pré-sal,
parece que lhe rogaram praga, tantos os desastres que o comprometem. Se depois
de tudo conseguirmos voltar ao vagão, será que nosso lugar não estará ocupado
pelos concorrentes?
Fonte:
Folha de S. Paulo
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