O Estado de S. Paulo
Rebelião na Economia chega ao MEC, a cientistas, professores, ambientalistas... E vai continuar
A debandada não é só no Ministério da
Economia, é também no da Educação e o presidente Jair Bolsonaro coleciona
manifestos e desafetos, não mais um daqui, outro dali, mas às dúzias e das mais
variadas áreas.
Já se perdeu a conta das baixas na
Economia, que atingem altos escalões, como as secretarias do Tesouro, Receita
Federal, Administração e Privatizações. Cai um atrás do outro, por desencanto e
impotência, e ninguém de fora se anima a assumir, por precaução e juízo. Assim,
o jeito é embaralhar as peças no mesmo tabuleiro: o próprio governo.
O MEC vai no mesmo caminho. Até a conclusão
desta edição, já tinham se demitido 33 servidores do Inep, responsável pelo
Enem, a 13 dias das provas, com 3 milhões de inscritos. Alegaram “fragilidade
técnica e administrativa” – ou seja, bagunça – da atual gestão. O diretor,
Danilo Dupas, é o quarto no governo Bolsonaro.
Se a crise vem de dentro, vem também de fora do governo, onde doutores da academia e das áreas científica e ambiental, para ficar só nas crises mais agudas, fazem fila para dizer um “basta” ao negacionismo, à ignorância, à falta de prioridades, às perseguições.
Grão-mestre do Mérito Científico, o que já
é um escândalo, Bolsonaro cancelou a entrega de medalhas para Marcos Vinícius
Guimarães Lacerda, autor de um estudo comprovando a ineficácia da cloroquina
contra a covid-19, e Adele Benzaken, demitida já em 2019 do Departamento de
HIV/AIDS por causa de uma cartilha para homens trans. Ambos da Fiocruz.
Como reação, 21 cientistas renunciaram à
medalha, por “indignação, protesto e repúdio” à exclusão dos dois colegas, ao
negacionismo e ao drástico corte de verbas para Ciência. E não ficou por aí,
pois 38 professores eméritos da UFRJ foram na mesma linha.
Isso remete ao desmanche da Saúde, com um
ministro que não conhecia o SUS, do Meio Ambiente, com um que jamais pisara na
Amazônia, da Política Externa, pró-trump, e da Cultura, com um simpatizante de
Hitler. E o desmatamento cresce e os biomas e indígenas são ameaçados, enquanto
o total de multas ambientais é o menor em 20 anos! Madeireiros ilegais,
contrabandistas, invasores e destruidores em geral fazem a festa.
E o presidente? Não pode comemorar o avanço da vacinação, após defender “tratamento precoce” e desdenhar das vacinas na ONU, passa ao largo da COP 26 para fugir de “pedradas” e reclama que os argumentos da ministra Rosa Weber (STF) para suspender o orçamento secreto (e o “tratoraço”) “não são justos”. Afinal, o que é e o que não é justo?
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