- O Globo / Folha de S. Paulo
Negro com bicicleta é ladrão
Andando pelo Leblon, um casal de jovens viu
um negro numa bicicleta elétrica. Ele julgou-se no direito de perguntar como o
cidadão conseguira a bike. Esse miliciano avulso ganha uma passagem para se vacinar
em Nova York se for capaz de provar que já abordou um branco ao volante de um
carrão com o mesmo tipo de pergunta.
Num momento, o instrutor de surfe Matheus
Nunes Ribeiro provou que não era ladrão. Convenceu-os de que era dono da peça e
filmou o final da cena. O rapaz pediu desculpas três vezes, recebeu inúmeros
palavrões e foi-se embora. Era um otário, pois, se estivesse confrontando um
ladrão, poderia ter entrado numa fria. Mesmo no Leblon e, com muita
probabilidade, num bairro da periferia, o negro poderia ter passado por maus
momentos.
A calma do miliciano avulso e a prontidão com que se desculpou indicam que é um racista com tintas de boa educação. Identificado pelo vídeo, deveria botar a cara na vitrine, pedindo desculpas públicas. Não vale dizer que toma remédios tarja preta, como tem acontecido em casos similares.
Assim é o racismo de Pindorama. Sempre que
o geógrafo Milton Santos entrava na primeira classe em voos internacionais de
empresas brasileiras, a tripulação falava com ele em inglês. O miliciano avulso
do Leblon e as pessoas capazes de pensar que um negro numa bicicleta elétrica é
um ladrão devem ser lembrados de dois episódios ocorridos com uma família de
negros americanos de Chicago.
Episódio 1: Craig Robinson, de 11 anos,
passeava na sua bicicleta e foi parado por um policial (negro). Para provar que
a bicicleta é sua, leva-o para casa. Lá encontram dona Marion, a mãe do garoto
e mulher de um zelador. Desfeito o engano, ela virou o jogo. Passou um sabão no
policial e obrigou-o a pedir desculpas a Craig. (Noutra versão, foi à delegacia
denunciar a sua conduta.)
Episódio 2: A mãe de Catherine Brown ralou
trabalhando numa escola de elite para educá-la direito. A jovem conseguiu
entrar para a Universidade Princeton e, quando as duas entraram no dormitório,
viram que Catherine dividiria o quarto com uma negra, a irmã de Craig. Fez o
possível para transferir a filha do quarto, mas fracassou.
Craig Robinson também educou-se em
Princeton, passou por Wall Street e decidiu se tornar treinador de equipes de
basquete. As duas jovens de Princeton conviveram bem. Anos depois, a negra
casou-se com o filho de um economista queniano. Chamava-se Barack Hussein
Obama.
A senhora Marion Robinson morou oito anos
na Casa Branca, cuidando das netas adolescentes. Lavava suas roupas de baixo,
fazia suas compras e, quando alguém a reconhecia, dizia que se tratava apenas
de um caso de semelhança. No dia em que seu genro foi eleito, não quis ir para
o palanque e viu a cena junto com a multidão. Nunca entrou na cena social de
Washington.
No ano passado, uma jovem americana que
passeava com seu cachorro (sem coleira) pelo Central Park teve um piti e chamou
a polícia porque um negro a filmava.
A moça perdeu o emprego e teve de passar
por um programa de reeducação por ter feito uma denuncia falsa à polícia.
Nenhum comentário:
Postar um comentário