Polarizar
afetivamente com os dois extremos é a alternativa para o centro
Estudos
de psicologia política e social sugerem que a polarização política se expressa
cada vez menos a partir de diferenças ideológicas, mas, fundamentalmente, por meio
de conexões afetivas.
A construção de identidades não requer a concordância com valores ou atitudes
políticas; basta simplesmente uma sensação de inclusão a um determinado grupo e
de exclusão de outro.
Assim
como democratas e republicanos nos EUA, lulistas e bolsonaristas cada vez mais
desgostam uns dos outros, chegando mesmo a se odiar. Esses grupos polares
identificam, antes de tudo, quem somos “nós” e quem são “eles”. Os membros de
cada um dos grupos se consideram superiores aos membros do grupo rival e esse
julgamento está baseado em conexões de identidade e pertencimento, e não em
ideologias ou políticas específicas.
Em estudo recente, mostro que eleitores que reprovaram o desempenho do governo Bolsonaro na pandemia se opuseram ao programa de auxílio emergencial quando perceberam que tal política iria beneficiar Bolsonaro. Vale salientar que a avaliação negativa da política de transferência de renda foi contraditoriamente mais forte entre eleitores de esquerda, que, a princípio, seriam favoráveis a políticas de proteção social. Por outro lado, os apoiadores do presidente, que ideologicamente seriam contrários a políticas de transferência de renda, mostram grande suporte ao programa quando perceberam que Bolsonaro dele poderia se beneficiar.
Até
2018, a polarização tinha se cristalizado em torno das identidades do petismo e
do antipetismo. Com a volta de Lula à disputa eleitoral de 2022, o petismo, que
já se confundia com o lulismo, tende a ser completamente absorvido por este. O
antipetismo, por outro lado, que vinha sendo incorporado pelo PSDB, foi
apropriado pelo bolsonarismo na campanha à Presidência. O perfil belicoso de
Bolsonaro, caracterizado pelo confronto com as instituições, consolidou o
antibolsonarismo. A polarização afetiva no Brasil passou a ter, portanto, dois
novos pêndulos de desafeto: Lula e Bolsonaro.
Vários
aspectos explicam os sentimentos anti-Lula e anti-Bolsonaro. Em relação a Lula,
uma das principais imagens que compõem seu desafeto é, sem sombra de dúvida, a
corrupção. O esquema ilegal de recompensas a parceiros políticos, exposto no
escândalo de mensalão, e as cifras bilionárias do escândalo do petrolão
cristalizaram o antilulismo. Já quanto a Bolsonaro, um dos principais elementos
de desafeto tem sido a irresponsabilidade com a vida durante a pandemia,
revelada pela negação da gravidade da doença e descaso com as medidas de
isolamento social, culminando com a completa ineficiência na aquisição de
vacinas.
O
que resta, então, a partidos de centro fazer neste ambiente afetivamente
polarizado?
Como
é provável que para muitos eleitores de centro, entre o “bandido” e o
“genocida” não exista mal menor, o candidato que ambicione obter esses votos
deve jogar afetivamente contra esses dois polos extremos. A oportunidade para
uma candidatura de centro não seria se apresentar como uma plataforma
autossuficiente, mas, sim, como uma alternativa reativa à corrupção e ao
achincalho à gestão da pandemia.
Ou
seja, para se tornar competitivo, não basta ao centro polarizar apenas com
Bolsonaro, como sinalizado em manifesto recente pela consciência democrática.
Terá também de polarizar com Lula para ser uma alternativa atraente para os
antilulistas.
É
esperado que Lula e Bolsonaro sinalizem compromissos ao centro para tentar
capturar seus eleitores. Porém, esses movimentos só serão críveis se os
partidos e candidatos de centro deixarem que esses eleitores esqueçam os
motivos que motivaram seus desafetos.
*Cientista Político e professor titular da Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas (FGV EBAPE)
2 comentários:
As pesquisas de opinião explodiram na busca da polarização, tao logo Lula fez o seu discurso. A imprensa vicia a polarização Tico e Teco na estratégia eleitoreira das manifestação "Democrática"dos Candidatos. Sao Paulo mostrou isso nas últimas eleições. É fácil cortar essa mamata. Que venha um antiMarketing Político.
As pesquisas de opinião explodiram na busca da polarização, tao logo Lula fez o seu discurso. A imprensa vicia a polarização Tico e Teco na estratégia eleitoreira das manifestação "Democrática"dos Candidatos. Sao Paulo mostrou isso nas últimas eleições. É fácil cortar essa mamata. Que venha um antiMarketing Político.
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