Mas há método nessa loucura, e que não recua do uso de qualquer expediente que evite a sua derrota final, em última instância até o de favorecer enfrentamentos que levem o país à beira de numa guerra civil. Bolsonaro e seu entorno imediato nunca esconderam seus propósitos do que entendiam como uma purificação política do país pela eliminação dos seus adversários, no limite, física (os trinta mil mortos tantas vezes mencionados publicamente), explícita na glorificação de militares torturadores na ditadura militar e na sua obsessão de defesa do regime do AI-5. Nesse sentido, converteu em uma política de Estado a difusão do culto às armas e a massificação da sua posse, e favoreceu a criação de milícias entre seus simpatizantes e sequazes.
Ao longo do seu governo, em particular após
sua inflexão em favor das forças políticas agrupadas no Centrão, procurou palmilhar
as vias da política na expectativa de que com elas se credenciaria a disputar
com êxito a sucessão eleitoral, sem perder de vista, em nenhum momento, a
alternativa golpista para o caso de se frustrarem. Salvo um desastre cósmico,
às vésperas das eleições são favas contadas sua derrota eleitoral, e já se
fazem ouvir os tambores que anunciam a presença dos conspiradores contra a
democracia, em que pesem robustas trincheiras, nacionais e internacionais, que
começam a se levantar contra seus intentos.
Os democratas, nessa hora de suma
gravidade, não podem se iludir antecipando o sucesso dos seus esforços, pois,
na verdade, o que está em jogo é levar a efeito a obra inconclusa da
democratização do país, removendo o que ainda sobrevive do entulho autoritário.
O desespero dos que se sentem na iminência de perderem o poder e suas prebendas
pode levar a que se socorram do ou tudo ou nada, ou cogitarem de que após de
mim, o dilúvio, precipitando o país no tumulto e no caos.
O recente ultraje à dignidade da nação
praticado por Bolsonaro na famigerada reunião com embaixadores de países amigos
mais uma vez expos a natureza temerária de suas ações como dirigente político
que a tudo subordina ao que entende como seus interesses na preservação do
poder. Os riscos letais a que nossa democracia incorre pela ação de
conspiradores dispostos ao uso de recursos extremos contra ela, não pode ser
outro que o da união de todos nessa causa de salvação nacional.
Sob ameaça a sociedade deu partida ao
sentimento de insurgência contra um governo que renega o que há de melhor em
nossas tradições e em nossos esforços por radicar aqui os ideais
civilizatórios. O manifesto que ora conta com mais de 500 mil assinaturas em
defesa da democracia e de nossas instituições ao qual aderem juristas,
intelectuais, artistas e entidades representativas da indústria, das finanças e
do comércio e seis centrais sindicais, ainda aberto a novas adesões, apontam
nessa direção.
Seu
texto, atores, e o lugar em que será anunciado publicamente no dia 11 de agosto
na Universidade de São Paulo, carregam simbolicamente os elos entre o movimento
libertário atual e o dos idos anos 1980 significando continuidade nas lutas
democráticas entre esses dois períodos em que este mais recente visa completar
o que ainda faltou ao primeiro.
*Luiz Werneck Vianna, Sociólogo, PUC-Rio
Leia
mais:
Luiz Werneck
Vianna* - Os gansos do Capitólio e nós
Luiz Werneck
Vianna*: Como uma onda grande no mar
Luiz Werneck Vianna*: Na
Amazônia o coração das trevas
2 comentários:
Jair Bolsonaro = rato acuado e sem saída! Se deixar a presidência, é julgamento e cadeia certos...
1977 e não 1980.
Postar um comentário